segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Kanna.


Eu sou um espelho e minha mania é agir da forma que o outro age. Dou a mesma cartada, pagando com a mesma moeda, sempre nas mesmas medidas e proporções. Sou portanto, o sábio mais justo já encontrado de todos os tempos. Eu fico na minha até a minha dupla chegar. E ele vem, ele é lindo. A primeira vista, percorro meu olhar apenas pela sua casca, também conhecida como beleza exterior. É tudo e unicamente o que ele tem a me oferecer no momento. Eu estou parado e ele parece nunca cansar de me admirar.Começa a me fuzilar com o seu olhar sem nunca ousar desviar sua atenção. Eu percebo, que estamos tão separados, não temos qualquer tipo de conexão para nos manter unidos. O empecilho que rasga com prazer qualquer junção e tentativa de nos manter próximos, é a falta de conhecimento. Na lógica da vida, a falta de conhecimento torna a vaga da confiança vazia, suplicando para ser preenchida. Fisicamente, ele está a dez metros do meu encontro. Faz uma pose, sorri para mim. Conversa e me conta coisas que só eu posso entender. Aquele tipo de coisa que você só conversa com você mesmo e que não conta para ninguém. Então você se envolve. Por muitos motivos. Talvez porque você sempre esperou pra encontrar aquela dupla perfeita, ou talvez porque precise de alguém no momento. O primeiro encontro ocorre na base do interesse. Como a pessoa é nova em todos os aspectos, tudo o que você pode tirar dela é superficial. Tudo o que você pode TER com ela, é algo material, algo possessivo. Porque o sentimento só vem quando a pessoa é decifrada devagar, fundo a fundo. E os defeitos são amados e construídos com carinho e dedicação. Finalmente, eu admito que estou envolvido. É simplesmente impossível não ouvi-lo, não desejá-lo, não vê-lo, e principalmente não ter vontade de passar o resto da minha vida ao seu lado. Promessas são feitas, para mim. Você se sente tão especial, tão querido. Mas as vezes me esqueço do espelho que sou e de como sou imóvel ao estar grudado da parede. Tudo que posso fazer é esperar ansiosamente ele vir, para transformar cada palavra em cada gesto. E da água pro vinho, como se nada tivesse ocorrido, ele some. Ele pode, como eu mesmo disse, pois não há nada capaz de nos manter unidos. Eu estou só. E chamo pelo seu nome, mas ele não escuta. Luto para encontrá-lo, mas não consigo. Tenho pensamentos positivos, mas de nada pareço atrair. E em um impulso, consigo refletir diante de meus olhos, toda a realidade que antes havia sido disperçada. A carisma e o egoísmo finalmente tiram o seus respectivos disfarces. O menino na verdade nunca quis me agradar com seu discurso. Eu havia esquecido de que eu era diferente de todos. O menino ao agir da forma que agiu, foi um eterno egoísta, pois a unica imagem que ele via ao se referir a mim, era a dele projetada. Ou seja, de todas as formas que ele agiu ou pensou em agir, foram reservadas apenas para ele. Ele jamais pensou em mim. Que eu estava ali e no que eu podia representar a ele. Ele se preocupou em apenas checar quem ele era, me usando, através do que eu podia lhe oferecer. Somos de dois mundos separados. Como se eu quisesse estender minhas mãos e jamais poder tocá-lo, já que há alguma barreira física que me impede. Ele é irreal, sendo de um sonho irrealizável e utópico.Quando menos percebo, pela decepção e enganação, uma rachudura aparece. Ela se alastra cada vez mais aumentando seu alcance, percorrendo pelo meu plasma de vidro. Vai levando consigo mesma qualquer esperança sentida, causando uma árdua dor que me faz pirar. Mas essa é diferente das outras. É como se ela persistisse em estar ali, sendo fincada até a ultima raiz, desprovida de qualquer cura possível.