quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Eu quero ser eu mesmo; a vida é muito curta pra você ficar brincando de personagens, fazendo o que você não quer fazer; sendo o que você não quer ser, só pras pessoas pararem de falar certas coisas de você. Não... deixa falar então. Eu sou eu, pronto acabou.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Seu.

Dentro de mim aparenta ser apenas um órgão. Viajo pelos labirintos de mim mesmo na tentativa de buscar sua forma, seu jeito, seu movimento. Meu coração não é uma aula simples de anatomia, ele transcende qualquer bomba cardíaca. Um fator carnal é pouco para identificar sua forma verdadeira, que se encontra distante do físico.

Meu coração é uma reação de combustão, daquelas que precisam de apenas um estopim para acontecer, reagir. Meu coração também explode, transborda em um ato impulsivo, incontrolável. É como fogo de artifício que se solta tão rapidamente que suas cores se tornam borrões de tintas espalhados aos céus.

Ele é exigente, profundo, romântico, libriano. Acha que nada mais importa no mundo, a não ser o amor-de-si- próprio-com-o-outro, e por isso muitas vezes se afoga na sua própria intensidade, no pedantismo que criou para si mesmo, em seu oceano profundo de tantas emoções.

Meu coração é um leão bravo e rebelde que precisa ser domado com carinho e destreza. Ruge muito mais do que morde.

Meu coração é medroso, feito cisne branco. Fica tendo alucinações sobre situações pessimistas. Idealiza cada situação apresentada, sonha ao ato impossível, se apaixona pela imagem que cria... Quase nunca verdadeira. 

É fetiche escandaloso, luxúria inovadora, vontade desenfreada, fôlego incansável,  compulsão sexual no maior estilo Lars Von Trier.

Verso de Vinicius, prosa de Caio Fernando, conversa com Grieco, sinfonia Pássaro de Fogo, música da Calcanhoto, paixão de Adèle Hugo, escultura por Claudel, filme francês Ferrugem e Osso, carta número 11 do tarô, final de tarde em Paris. 

Insanidade, Catarse, Epifania; Intenso, Ardente, Voraz;

Seu.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Perguntei-me quanto tempo aquilo ia durar. Talvez um dia, anos mais tarde — se a dor diminuisse a um ponto que eu pudesse suportar — , eu fosse capaz de olhar o passado, aqueles poucos meses que sempre seriam os melhores de minha vida.[...]"

terça-feira, 19 de julho de 2011

Notícia.

—Não lamente. — agora, minha voz era só um sussurro.
Eu não tinha mais forças para falar, porém era um absurdo ele sentir qualquer tipo de culpa. Ele olhou para mim, com seus olhos cheios de água, e assim, provando que minhas palavras tinham chegado tarde demais.
—Droga, Taylor. Não faz isso, a culpa não é sua.
Quando notei, eu também já chorava aos prantos.
—Sei que minha escolha foi certa, mas me sinto muito egoísta por fazê-la. — suas palavras pareciam implorar por perdão.
Fiquei em silêncio por alguns minutos, fitando o seu rosto e me forçando ao máximo para compreender aquilo tudo. Não era egoísmo, mas sim uma prioridade, que de certa forma era certa e saudável para nós dois.
—Você vai voltar.
Falei para mim mesmo, alto o suficiente para ele escutar.
—E se der errado? — uma lágrima volumosa caiu rapidamente de seus olhos, enquanto ele buscava desesperado uma resposta que pudesse solucionar tudo.
—É um risco que estamos dispostos a lutar. Tudo vai ficar mais complicado, não vou te esconder a realidade, por mais difícil que ela seja. Mas vamos lutar para ficarmos juntos e tudo acabará bem.
Eu suspirei alto com minha frase final, negando com a cabeça qualquer pessimismo que pudesse surgir. Fiquei surpreso por agora estar mais calmo, porque antes eu gritava furioso, não com ele, mas por causa do futuro que teríamos que enfrentar.
Eu não podia mentir e agir como se tudo estivesse bem. Com certeza, a sua distância era o que eu mais temia e lidar com ela, repentinamente, era um desafio para mim. Eu não era de ferro para engolir todo o sofrimento diante dele. Embora eu realmente quisesse mostrar que estava feliz por ele ter conquistado uma oportunidade única em sua vida, eu não conseguia simplesmente apertar "delete" em um tom automático.
—Tenho medo que eu pague um preço alto demais. Não quero te perder.
Todo o meu corpo ficou dormente e eu não conseguia sentir nada abaixo do pescoço. Permaneci ali no chão, sem forças para levantar.
Ele desceu da cama, vindo até mim e abraçando as minhas costas.
—Por que isso tinha que acontecer? É muita dor. — afirmei, encarando a veracidade de minhas palavras. Nunca tinha me imaginado um mês sequer longe dele e só de pensar que será um ano inteiro, meu coração explodia intensamente.
—Gostaria de te pedir um favor. — ele afagou meu rosto, virando-me para si.
—O que quiser.
Por um instante, pensei sentir uma rápida felicidade passear pelo seu rosto e me perguntei qual seria seu pedido. Mas logo, suas feições voltaram a ser tristes, as mesmas presenciadas assim que entrou em meu quarto.
—Confie em mim. Jamais duvide do nosso amor. E por favor, não deixe de viver a sua vida.
Enquanto eu o olhava, seus olhos trêmulos derreteram. Eles ardiam em uma intensidade semelhantes aos meus e quase se misturaram diante de nossas lágrimas.
Internamente, tudo estava tão forte, que escutava nosso dois corações juntos, batendo em um ritmo freneticamente combinado. O meu sangue estava quente, e queimava meu corpo passo a passo, anestesiando um pouco o sofrimento que me corroía, como ácido em minhas veias.
Eu estava tonto, era dificil de me concentrar, mas senti seu celular vibrando mais uma vez, dedurando nossos ultimos minutos juntos. Ele não iria para a França agora, porém só pelo fato dele estar me deixando, fazia minha ferida aumentar de tamanho.
—Agora preciso ir, para encontrar com meus pais.
Assenti, demasiado.
Ele se despediu de mim, com um beijo, prometendo me ver amanhã.
Eu não tinha vontade nenhuma de abrir a porta e enfim deixá-lo ir embora. Ele já iria ficar tanto tempo longe de mim que a cada segundo perdido seria um desperdício. Se antes tudo já era vivido profundamente, agora tudo se tornava mais forte ainda.
A janela aberta deixou uma brisa leve vir me visitar. Enquanto eu me enrolava para girar a maçaneta da porta e deixá-lo ir, cheguei a me perguntar se a dor um dia passaria.
Assim, que ele se foi, fui deslizando minhas costas na porta que regia por detrás de mim, até me sentar no chão, com os joelhos abraçados juntos do peito. Eu já sabia a resposta.
Coloquei a mão no tórax, sentindo minhas costelas se deslocarem para extremidades opostas, como se meu esterno fosse saltar para fora. De alguma forma, tentei respirar normalmente, tentando aliviar o sufuco que aquilo estava me causando. Mas tudo em vão. Com as pernas trêmulas, apaguei qualquer probabilidade de rumar até o quarto e por isso permaneci ali parado.
Senti o mármore debaixo de mim desaparecer e jurava que iria desmaiar, mas por algum motivo minha consciência não me deixou. As dores que antes estavam presentes, se tornaram mais fortes, tornando minha visão turva e por enfim inundando minha cabeça, me afogando em um mar desconhecido. Fui puxado para baixo.
Não retornei a superfície.

domingo, 10 de julho de 2011

Sopro.

Se antes me oferecesse, não queria
Assim dizia, em oposição
Trégua à alma, agora tão calma
Com sim, sem não: aceitação.

Tudo ótimo, tudo certo
Assim flexível, de um jeito aberto
Não se preocupe, de verdade
Já não fujo mais de minha realidade.

De agora, por adiante
Quero um tempo distante
Entrego a dor assim, bem à cega
Pois sofrer, é antigo; muito brega.

Venha perdão, em suma essência
Permaneça jovem, Paciência;
Prometi junto a mim, que você ficaria
Ah, Calmaria; Calmaria.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O pendurado.

Estou de volta hoje por um breve momento porque tenho saudade de mim mesmo. Não posso dizer que sou menos feliz do que ontem. Mas o que sobrou de mim se nem ao menos posso praticar o meu eu? Por falta de tempo, de inspiração, por repressão. Motivos que surgem a minha mente e que enfim não me valem de nada do momento. Tudo o que deve ser expresso aqui é a verdade, a única imutável. Eu me dei o direito — de somente nesses minutos, eu juro — de parar de viver essa vida corrida. Antes de voltar ao furacão, antes de me pendurar novamente pela corda, hoje quero acordar com outros olhos. Quero ver o mundo como sempre vi, colorido, grandioso, rico em oportunidade, caminhos, sensações. Com tanto a se descobrir, com aquela vontade de acordar e não ter desânimo, de não sentir dor.

Estaria eu sendo fraco demais? Por derramar todas as minhas lágrimas, por soltar meus males e gritar, surtar: liberar. Quero por um momento ser humano, dizer a todas as pessoas que eu não aguento mais, que eu cansei de ser forte. Quero me fragilizar, ferir meu orgulho e espalhar que eu sinto muito e que estou realmente muito ferido. Há quanto tempo estou preso, a quanto tempo enfrento medos que sugam minha alma, no maior estilo erva daninha. Me sinto em preto em branco, muito desabilitado, como se tudo fosse realmente impossível. Estou encapsulado, de mãos atadas, tão inativo que mais nada posso fazer, a não ser aceitar e torcer para que tudo no final se saia da melhor maneira possível.

Estaria eu sendo injusto comigo mesmo? Afinal, sinto saudades do que eu já fui e por incrível que pareça, do que eu nunca passei. Não sei se no final isso ajuda, acho que hoje nem mesmo as palavras me sobram como ajuda de alívio, como descarrego dos meus erros incuráveis. Alimento a minha saudade, alimento a minha situaçao ruim, pois não tenho mais forças para fugir dela. No momento, eu desisto de tentar me levantar, só por um instante, e assim entrego meu sofrimento aos céus.

Mas não procurem se preocupar. Brevemente, não terei mais saudade para inventar, eu sentirei saudade de verdade. Na carne, e tenho certeza de que tudo será muito mais forte do que agora. O amor não vai me deixar desamparado, porém pela distância, terei falta do calor, do cheiro, dos momentos, do abraço, daquele beijo. Tão únicos, marcas registradas de minhas páginas apaixonadas, tão sábias e puras, unicamente reservadas a mim, pois somente eu sou capaz de senti-las. Presenciá-las do meu jeito, tal intensidade, tal sonho magnífico, infelizmente afastado por um instante de mim.

Bom, deixo aqui meu suspiro final. Tudo vai melhorar. O futuro é melhor do que passou, e os caminhos estão abertos. Depois de tudo, ainda consigo ser feliz, pois tenho esperança de que a opressão se acabará e que enfim poderei sorrir sem peso na consciência.
Agora preciso voltar para o desespero, porque a vida não ousa parar.
Vou sobreviver, eu prometo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A cura do amor.

Aquele ambiente era morto antes dele chegar. A única coisa que ilumanava o local eram as inúmeras refrações que o sol fazia ao penetrar através da janela. Não havia vida, não havia cor, nenhuma razão para se viver. Ela nem sabia porque vivia. Muitas vezes, eu cheguei e me perguntar o que tanto a menina observava entre as frestas da janela. Mas cheguei a conclusão de que ela só olhava, pois não restava nenhuma outra opção. Ela se perdia, durante horas, pensativa, como uma estátua.
Obviamente.
Qual será o sentido da vida para uma pessoa que não consegue mexer nenhum milímetro do corpo? Vocês não conhecem a dor verdadeira. Ela jamais se colocou em uma situação díficil. Nunca alimentou nenhuma dor. Ela nunca procurou motivos para tornar a sua vida um inferno. Ela simplesmente sempre conviveu com isso.
Existem muitos tipos de paralisia, se vocês querem saber. Pior mesmo é quando você escolhe ser paralítico, por opção. Mas isso está relacionado ao poder de ação e não a paralisia física em si.
O não-movimento está presente no nosso dia a dia. As pessoas são tão passivas em relação a vida. O medo de arriscar, o orgulho do não falar, o silêncio do não agir. Hoje em dia, não se tem mais amor, pois não há mais entrega. O medo venceu a coragem da declaração, venceu qualquer tipo de ato para mudança do mundo. Hoje se vemos um ato de injustiça na rua, não chamamos a atenção, não nos rebelamos pois não queremos nos intrometer: pode sobrar para nós. A solidariedade não existe mais, achamos que somos fantoches nas mãos de Deus, o que é mentira, porque somos nós que comandamos as rédeas de nossas vidas. Achamos que jamais poderemos mudar o mundo com uma simples ação e por isso é muito mais fácil aceitá-lo do jeito que é, pois nos sentimos incapazes, seres inferiores. Mas com ela nunca foi assim.
Antes, a sala era vazia. Mas agora aquela pessoa de branco sempre estava lá. Na verdade, nunca consegui ver o formato do seu rosto. Mas ele sempre estava lá. Não só fisicamente, mas na própria atmosfera emocional.
A menina era reluzente. Seus olhos cor de mel desafiantes, o contorno de sua boca bem suave e suas maçãs faciais sempre estavam amenizadas, robustas. Uma pele branca, de seda puro marfim, parecia uma obra de arte realizada por um artista renascentista. Os traços do seu rosto lembravam feições de um anjo, não havia nenhuma linha mal desenhada, ou qualquer imperfeição. Seus cabelos eram como o fogo que ardia dipersando-se em brasas, em uma noite muito fria de inverno. Entravam em contrate com o seu tom claro, de porcelana.
Quando ele chegava, ela tentava sorrir. Mas é claro que não conseguia. Ele conversava tanto com ela, embora ela não pudesse respondê-lo. Ou soltar qualquer tipo de ruído. Ela só respirava, piscava e olhava, por isso era uma ótima ouvinte. E sofria muito por não poder correspondê-lo, pois nunca fora orgulhosa. O seu sonho era simplesmente retribuir as ações daquele homem, que por um momento pareciam tão excessivas quando comparadas as dela. Ela gostaria de uma única vez não ser a limitante. Mas ela era limitada: era um vegetal. Talvez a flor mais bonita já encontrada pelo ser humano, tão serena, tão compreensiva. Seu cheiro fazia os cinco sentidos gritarem.
Não podia retribuir, não podia falar o quanto o amava, embora ele sempre repetisse em seu cotidiano, em suas despedidas. Isso é, quando ele conseguia deixar aquele cômodo. Então, ela ficava ali parada, dedicando toda a sua atenção, ouvindo cada declaração, imóvel, sem ao menos poder abraçá-lo, imaginando que assim poderia se redimir, e que assim ele a perdoaria por ser tão fraca, tão incapaz. Ele a beijava. A abraçava. E ela se sentia completa, realizada.
Em um dia de chuva, pela primeira vez em uma dezenas de anos consecutivos, ele não apareceu. Uma enfermeira, nesse dia cuidou da menina. Mas ele continou a faltar e a faltar cada vez mais, durante semanas seguidas.
Ela se sentia presa mais do que um leão enjaulado, extravasando ansiedade, desejando mais do que tudo entender a ausência do seu amado. Ela queria uma explicação, mas não podia exigir seu direito por ela.
A notícia chegou em um dia escuro, o qual até mesmo o sol recusou-se a a sair por detrás das nuvens. Algumas enfermeiras entraram no cômodo e deixaram em cima da cama um diário fechado. Nele, se encontrava o nome da menina. O presente era para ela.
O médico antes de morrer, deixou uma lembrança ao seu amor.

Para o espanto de todos, em um ato fisicamente impossível, a menina se levantou para pegar o diário. Página por página, ela leu, aliviando-se em um choro desesperador que estivera retido e guardado, durante todo o tempo de sua vida.
—Eu também te amo. — ela disse, gaguejando.

E torceu para que ele pudesse ouvi-la.

sábado, 19 de março de 2011

Críticas.

Quem amadurece percebe que é necessário a flexibilidade perante a vida. São pessoas abertas a novas idéias que fogem de qualquer pensamento rígido, de qualquer conservadorismo. Pessoas que percebem que é útil perder a rigidez, adaptando-se às situações, e assim conseguindo ver todas as faces de uma mesma situação. Se recusam a fazer julgamentos apressados e por demais incisivos, pois compreendem que, dependendo da forma de olhar, tudo muda.
A vida é parecida com a música quando se trata de possibilidades - rítmos musicais. E como qualquer dançarino, precisamos trabalhar o nosso corpo para que possamos dançar em qualquer ritmo. Não importa o que tenhamos que enfrentar, nossa dança deverá ser sempre harmoniosa e bela, nunca dura e rígida, pois dureza e rigidez, são atributos da morte, não da vida plena.

Quem critica e mostra ser aquele ser diplomata, confia cegamente em sua fonte geradora de suas idéias inquestionáveis, esquecendo que quando a crítica não é baseada em conforto construtivo, tem seu efeito retrógado: a destruição.

Quem ama, deixa de lado qualquer julgamento. Há uma fragilidade que é exposta, porém fortalecida pela união de opostos.
Como é possível ter orgulho. Como é possível recusar a idéia de entrega ao ser amado? Como não dar a própria vida em sua total felicidade?
Quando ele for alguém que você ama de verdade.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Reclamação.

—Estou com raiva.
Afirmei, sem nenhuma culpa. Não há nada que eu pudesse esconder dele. Mas não posso negar que minha insatisfação era ridícula.
—De mim?
—Não consigo ter raiva de você. Estou com raiva por não conseguir. — eu levantei inquietamente, suspirando bem alto.
—Você queria estar?
Ele me perguntou enquanto assistia minha aproximação.
—Acho que você não procuraria por isso.
—Se você pedisse, eu faria.
Analisei a questão por um momento, tocando a minha palma à dele. Senti o calor do seu tato sendo transmitido pouco a pouco sob minha pele.
—Eu mereço você. E isso diz respeito aos seus defeitos também. Embora as vezes, eu precise ser bem paciente.
—Até que você sabe lidar com o meu pior.
—O que eu não gosto em você é o que te faz mal.
Ele me deu múltiplos beijos sucessivos. Depois ficou mordendo a minha bochecha, em um tom de suspense, bem lentamente. Isso tornava o gesto mais aproveitoso.
—Não. Não me beija, nós estamos em uma discussão. Você sempre tenta melhorar as coisas.
—Preciso me redimir.
—Pelo quê?
—Meus erros.
Eu levantei a sobrancelha, discordando. Ele era mais rápido do que eu nas respostas, praticamente me vencendo no raciocínio lógico.
—Sem eles, não chegaríamos aqui. E digo isso, pelos meus também.
Ele me envolveu em seus braços, me prendendo fortemente. Espremido contra seu peito, mal pude me conter.
—Desisto. Você realmente me ama.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Inverso.

—Você é maluco.
Eu tirei o braço que me segurava, tomando minha decisão, que com certeza ele julgaria impulsiva. Ele era mais forte do que eu e conseguia me travar com apenas um movimento.
—Me solta. — eu menti. É claro que eu não queria aquilo.
—Não.
Ele olhou firmemente para mim, me fazendo tremer dos pés à cabeça. Eu não ia voltar atrás, mas o desejo dele era tão forte que ultrapassava todos os meus princípios.
A pegada dele queimava a minha pele, fazendo meu coração latejar. Eu sentia como se eu fosse dele e aquilo por algum motivo me excitava. Tentei me desprender das suas garras, mais uma vez, mas minha teimosia, nem ao menos o incomodava.
Ele girou o seu corpo, bem rapidamente, me puxando contra ele. Foi tão rápido que só me lembro de sentir minhas costas batendo contra a parede por detrás de mim.
Eu não conhecia a música que estava tocando, mas o ritmo combinava perfeitamente com o nosso clima.
Com a nossa batida.

What's the worst thing that could happen to you? Take the chance tonight and try something new.

—O que você quer? — fiquei com o rosto virado para a multidão que dançava, vendo as luzes iluminarem o chão, cada uma com um tom diferente.
—Você.
Engoli seco.

Don't worry, 'cause tonight I got you. You can take a seat, do what you normally do.

—Como se isso fosse possível. — respondi, meio desconcentrado por causa da música.
—E por que não?
—Você sabe muito bem. É errado. Anti- ético.
—Podemos quebrar umas regras. Só hoje.
—Vão descobrir. Será que você não percebe onde está? — eu fiz um sinal com a minha cabeça, junto com meus olhos para o ambiente a nossa volta: uma boate lotada de pessoas.
—Só hoje. — ele repetiu, aproximando o sua boca do meu ouvido. O seu cheiro com a sua voz ali lançados, me fazia delirar. Seu timbre saiu como um sussurro, mas foi mais emocionante do que qualquer grito que eu já escutara na vida.
—Mentiroso. Como se eu não soubesse quando você mente.
—Eu sou péssimo nisso, reconheço. Mas isso não muda as coisas.
—Se você ficar comigo, sabe que não será só hoje.

Leave you, move on to a perfect stranger. You talk, I walk, wanna feel the danger. See me with him, it's turning you on. It's got me saying.Ain't getting me back at the end of this song.

A pausa deu ênfase na música. O sorriso confiante nunca saía do rosto dele, que era perfeito até mesmo quando havia pouca nitidez graças a escuridão. Ele sempre sabia o que queria.
—Eu sei de muitas coisas. Mas quem disse que elas fazem sentido nesse momento?
Ele colocou o dedo nos meus lábios, acariciando-os. Eu até agora não conseguia entender minhas forças. Era como se todo o meu corpo se retorcesse perto dele, lutando contra mim para se lançar em seus braços.
—Não podemos.
—Me convença. Me dê um motivo realmente bom.
Aquilo seria inútil. Mas segui seu pedido.
—A sua recuperação.
—Eu já estou curado. Você me cura por estar perto de mim.
Ele não conseguia deixar meu coração desacelerado nem por um segundo? Por que todas as respostas dele tinham que ser tão perfeitas?
—Não sabemos se você está em alta ainda.
Ele revirou os olhos, reprovando o meu argumento. Era mais do que óbvio que ele estava totalmente saudável, pelo menos, ao meu lado.
Eu respirei fundo, buscando qualquer resposta rápida que aparecesse em minha mente.
—O meu trabalho.
—Dinheiro não é problema para você.
Ele raciocinava mais rápido do que eu. Eu ia perder.

Get outta my way. Got no more to say. He's taken your place. Get outta my way. Way outta my way.

—Vão descobrir de você.
—Quem disse que eu me importo?
—Vamos perder o que a gente já tem. Isso pode dar errado. Não podemos arriscar tudo assim.
—Nada é mais forte que a gente. Não há riscos. Só a morte e não a vejo muito próxima daqui nesse momento.
—É sério.
—Nós só vamos ganhar. Não tenha medo. Pensei que você já confiasse em mim.

Ele era a pessoa que eu mais confiava nesse mundo.

Ele se aproximou do meu lábios, juntando a sua respiração à minha. Acho que perdi a noção do lugar por alguns segundos. Era errado desistir do parecia ser o politicamente correto. Mas só por um segundo, eu pude perceber que ele poderia jogar fora a sua racionalidade. Não seria sempre, seria naquele momento, que tinha se tornado muito especial por causa disso. Eu me sentia tão desejado. Aquilo era suficiente para eu nunca mais me separar dele.
—Eu não tenho mais desculpas.
—Finalmente.

Ele pressionou os seus lábios ao meus, esmagando-os e liberando a sua vontade presa há tanto tempo. Dizem que o primeiro beijo com a pessoa que você ama, é inesquecível. Só tenho o que concordar.
Imensurável.

No I ain't goin' home, Uh,uh,uh. But I won't be alone, uh uh uh. Now I've showed you what I'm made of.

Idéia do tema do texto, graças a Letícia. Obrigado.
Música: Kylie Minogue - Get Outta My Way

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carinho.

—Qual é a cor dos meus olhos?
—Depende. — típica resposta daquelas pessoas que fingem ser intelectuais.
—Do que? — a curiosidade permanecia estampada na testa dele.
Eu respirei, revirando os olhos, bem pensativo. Por mais que a resposta parecesse simples, no fundo era mais do que complexa.
—Eles são difíceis de decifrar. Quando você está longe de mim, são pretos. Quando você está próximo, ao analisá-los, descobrimos que na verdade, eles são marrons. Só que num tom bem escuro, mas ainda sim, marrons.
Sorri, analisando os contornos do seu rosto. Não há nada que eu quisesse mudar nele, nem ao menos a sobrancelha, que fugia da perfeição por ser apenas um pouco mais grossa do que o comum. Eram marcas dele e seria um desperdício retirá-las.
—Os seus também não são tão fáceis de ver. São bem puxados, orientais. — o bico que surgiu no meu rosto era inevitável. Ele continuou a falar.
—Mas quando o sol bate, eles se tornam muito claros, parecidos com mel. Quando você ri, eles se fecham por completo, e quando você está triste, eles sempre estão semicerrados. Na noite, eles quasem somem em contraste com a escuridão.
Eu comecei a rir, bem baixinho.
—Não consigo enxergar nada.
—Claro, você está rindo, novamente. Pode ser uma tática para quando eu quiser te encher de carinhos.
—Não precisa esperar eu ficar desatento, para isso. Eu jamais recusaria.
—Você não é nem louco.

Eu não podia discordar dele, ele estava certo.
Como sempre.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O poder do amor.

Meus amores, fica aqui um texto sobre a minha reflexão. Eu espero que seja de suma importância a todos vocês.

Sem os nosso opostos, seríamos seres incompletos.

A clareza do amor pode ser mostrada, sem dúvida, se soubermos incorporar o que consideramos seus opostos: o ódio, a raiva, a paixão. Se não conhecemos a nossa capacidade de nos indignar frente às injustiças, de lutar ás vezes com as armas do ódio, se não reconhecermos em nós a nossa capacidade de odiar, não saberemos amar. Se não incorporarmos ao nosso amor toda a nossa agressividade, amaremos passivamente e nada faremos de útil, nem por nós nem por ninguém. O amor exige iniciativa e não há iniciativa sem agressividade.

Ainda compreendemos o mundo pelos seus opostos. Só entendemos o bem porque conhecemos o mal, a alegria porque sabemos a tristeza, e temos que esgotar as suas possibilidades para que possamos uni-las e trancendê-las. Devemos considerar o ódio e paixão como os sentimentos mais honestos que podemos sentir e por isso mesmo, aqueles que finalmente nos darão a capacidade de nos harmonizar internamente. Infeliz o homem que diz que não sabe odiar, pois deixa claro que não sabe amar; infeliz aquele que nunca se apaixonou e não cometeu desatinos por causa dessa paixao, pois sem dúvida não brotou dentro de si a semente do amor.

A paixão é a semente do amor, que regada e acolhida por nós em todas as suas nuances, nos levará ao amor por nós mesmos através do caminho do verdadeiro autoconhecimento. A paixão nos expõe, por isso ela é honesta. A paixão mostra quem somos. Somos capazes de nos dedicar sem ressalvas, incondicionalmente a alguém ou algo que desejamos. Somos capazes de dar a própria vida por alguém, de morrer de for preciso... e de matar também. Por isso, eu acredito que a paixão é o sentimento mais honesto que podemos sentir e que, se apreciado honestamente, pode nos levar a um grande salto no conhecimento de nós mesmos.

Quem já viveu uma grande paixão, sabe muito bem do que estou falando. Quem de nós sob o efeito da paixão não cometeu deslizes "imperdoáveis"? Quem de nós não esconde do mundo as suas "vergonhas" pelo fato de termos cometido atos não muito elogiáveis quando apaixonados? Como falar das mentiras para conquistar, e assim para nos defendermos da possível perda do objeto amado. Das maquinações, das manipulações, das imagens falsas que criamos para enganar e nos tornarmos "perfeitos" aos olhos do outro e assim, acreditamos, nos tornar mais desejáveis, mais "amados"? Quanta agressividade, quanta mentira, quanta invasão de privacidade, quanta chantagem emocional utilizamos para conquistar, para preservar em nossas vidas aquilo que se perdermos, nos fará eternamente infelizes, incapazes de viver, como se a nossa vida dependesse de algo externo e não na força dentro de nós mesmos.

A paixão estabelece dentro de nós o caos, mas nele que estão as raízes da nossa reorganização emocional. É preciso que encaremos nosso monstros, nossas feras internas e as incorporemos verdadeiramente, deixando que elas nos fortaleçam, fortaleçam a nossa capacidade de amar, de amar a nós mesmos. Temos que encarar nossos intintos, não como "fontes do mal", mas como fontes de força, de saúde, de energia pura que não deve ser escondida por vergonha ou reprimida por medo do castigo "eterno".

Meus queridos... a paixão sugere longas batalhas com nós mesmos, com nossas carências e desejos e lembra que não devemos reprimi-los, pois assim mais eles crescem. Nossas feras interiores devem ser cuidadas, alimentadas, para que a luta possa terminar e libertar nossas dores e assim evoluirmos além do bem e do mal, dessa nossa dualidade.

É preciso firmeza para unir justiça e amor, sem contudo ignorar a agressividade e o instinto que devem se tornar amigos, guias que abrem o nosso caminho. Depois da paixão, não seremos mais os mesmos, teremos que admitir que não somos tão "limpos", tão generosos, e altruístas como gostamos de parecer. O nosso amor e a nossa dedicação ao ser amado não são, enfim, tão incondionais e nós teremos que admitir as nossas feras geradoras de ciúme e mágoa, de ressentimentos e possessividade, ponto de partida para incorporarmos sua força e guiá-la positivamente.

Esta, a mensagem da paixão.