segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Inteiro.

Quando ele entrou pela porta, a explosão foi instântanea. Senti meu corpo se revigorar, como se todo esse tempo ele tivesse sido apenas uma carne vazia, sem sensações, intorpecido pela dor. Meus ouvidos estalaram, refletindo a frequência dos sons que agora podiam ser diferenciados por mim — tinha esquecido de como o mundo lá fora era barulhento. Minha visão não estava mais turva, e não me confundia mais: eu conseguia vê-lo claramente diante de meus olhos. 

Tinha ficado tanto tempo sem observá-lo que acabei esquecendo o quanto era lindo. Era tão maravilhoso tê-lo diante de mim, que nada mais me importava. Não queria nem saber quanto tempo eu tinha sofrido da minha vida, a dor nem se comparava com meu momento presente de felicidade. Mesmo que não desse certo, mesmo que as mágoas vencessem nossa relação, até mesmo se ele não me quisesse mais, eu não ligava. Meu único desejo seria tê-lo do meu lado, o tempo que durasse. 
 
Bem de repente, tudo ficou mais leve; minha coluna se reergueu, e pude finalmente sentir minha respiração. Meus pulmões se encheram de ar, empurrando meu tórax para frente, em um ato de bravura, de vítória. Minhas costelas — antes contraídas, agora se relaxaram, desprendendo meu coração, que conseguia bater mais livremente. Eu conseguia senti-lo pulsando com vontade, como se uma faísca o tivesse revivido. O buraco em meu peito já não existia mais, eu estava perfeito — mas não poderia dizer totalmente curado, pois foi como se nunca nenhuma ferida tivesse sequer existido.

Ele cruzou o corredor de pétalas, entre as velas até mim, em um passo longo e comprido, até me alcançar. Depois de algumas declarações de saudades, seus braços firmes me envolveram em um grande abraço caloroso.

Ele me beijou, depois de um ano. 

Diferente de Romeu e Julieta, o beijo não me matou. Muito pelo contrário, ele me salvou de todas as maneiras que alguém poderia ser salvo.