segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ele.

De repente, ele chegou. Isso se tornou bem perceptível, quando a porta do meu quarto se abriu. Mas mesmo que eu não tivesse notado. Mesmo que eu estivesse de olhos fechados, eu poderia perceber que ele já estava por perto. Antes de tudo, a mudança começa em mim. Sinto como se toda a minha raiva aprisionada — mediante das falhas ocorridas durante a semana — estivesse sumindo rapidamente. O que estava perdido por qualquer confusão, agora se purificava em um processo muito lento, ótimo para ser aproveitado.
Parece que o mundo lá fora desfalece, pelo menos por um instante. Dessa forma, já percebo a modificação no meu quarto, que se torna um ambiente seguro feito de um material indestrutível, onde nada de ruim pode me atingir. Era uma energia muito forte que ia se espalhando pela atmosfera. Não existia qualquer preocupação, tudo era relaxante e vigoroso.

Ele sempre tem a mesma cara. Aquele olhar penetrante, tentando decifrar cada pensamento meu. Com aquele sorriso largo puxado de um canto do rosto até o outro extremo, quase rompendo os seus músculo faciais. Os olhos brilhavam de felicidade por finalmente estarem me fitando. O sucesso está estampado na testa dele. Eu consigo ver de longe, que ele contava cada hora — assim como eu — para o ínicio do nosso reencontro. E mesmo que a gente não quisesse, já não tinha como impedir o momento: tudo seria perfeito. Como sempre.

Ele me deu um beijo, colando levemente os seus lábios na minha bochecha. Com uma de minhas mãos, eu toquei o seu rosto, sentindo o beijo se aprofundar cada vez mais. Eu me virei de frente para ele, esbarrando o meu nariz ao dele e assim, sentindo a frequência da sua respiração. Ele desviou o seu carinho para o meu lábio inferior, puxando-o para provar o sabor. E aos poucos foi se apossando dos meus desejos, decifrando-os um por um. Aquilo era tão bom, tão único, que parecia que nós dois tinhámos nascido apenas para vivenciá-lo. Mergulhando sobre mim, ele me deitou na cama, jogando uma de suas pernas sobre a minha. Aos poucos o formato do meu corpo ia se juntando ao dele, encaixando parte por parte. Joguei um de meus braços sobre o seu peito, sentindo o seu hálito congelante refrescar o meu suor. O meu rosto colado ao dele, lutava para devolver cada demonstração. Mas ele era mais mais eficaz do que eu. Era incrível.
O cheiro dele fazia todo o meu corpo se retorcer. O que era aquilo? A cada toque, a cada movimento, eu quase me contraía de prazer. Sentia tudo se retorcer, por isso era díficil manter a consciência. O beijo dele não me deixava puxar o oxigênio e por isso, sem fôlego, eu o apertava com voracidade. Ele derramava seu tato em mim, firmando sua postura a minha. Eu vibrava tensamente com aquela emoção sentida.
Senti-lo perto de mim era sentir a nossa alma entrelaçada. Com os seus suspiros umidecendo o meu sufoco, logo o seu amor nutria a minha razão de viver.

Eu só desejava que aquilo não tivesse fim.
Simplesmente incontrolável.

domingo, 5 de dezembro de 2010

tudo o que eu não posso ter, tudo o que eu não posso construir.
tudo bem. tudo bem.

tudo o que eu não posso ser.
não tem sentido, tem?

já te contei que posso ser tudo o que eu quiser?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crepúsculo.

Entre o caminho que sempre me fora o mesmo, exceto pelas mudanças estacionais, encontrei uma pepita de ouro. Se não fosse pelo outono que passara rápido, talvez esta ficasse escondida reluzente, entre as folhas secas amareladas. Bem ali entre as flores púrpuras, ela brilhava praticamente imperceptível.

Não a peguei, pois não pertencia a mim. Unicamente à paisagem, que com ela se tornara tão livre, tão bela.
Mesmo que fosse ingênuo, torci para que um dia eu pudesse encontrá-la novamente.

Mais a frente, por trás dos galopes montanhosos, percebi o maravilhoso pôr-do-sol. Como uma bola de fogo queimando pouco a pouco as maçãs de meu rosto. Sabia que não duraria muito, então nem precisei de esforço para desfrutar do seu espetáculo. Ali parado, fiquei.

Agradeci, suspirando.
Ainda bem que ninguém podia roubá-lo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pote de ouro.

Felicidade é uma coisa rara.

É um lapso incontrolável de espamos sensitivos. Complexo irreal, incondicional, pois não há qualquer parte que possa ser avaliada. É uma junção de extremos, de opostos, muito atrativo, irrecusável. Diferente de qualquer coisa racional, tão facilmente descrita como um processo em catálise de entendimento. A felicidade é um escapismo. É como água não concretizada em nossas mãos, que se derrete, esfriando nossas juntas ao percorrer parte a parte.

Felicidade é o objetivo central, o porquê de qualquer dúvida, o ultrapassar de qualquer medo, a superação de qualquer dor. Felicidade é como um fio desencapado. Que estremece cada pêlo, eriçando em textura elétrica qualquer movimento perceptivo, tremendo cada canto ao tonificar nossos sorrisos emotivos.

Felicidade é um momento único. Somente captado sem preocupação, sem esforço, vem como o ar que respiramos, tão natural como o semear de uma flor. Nos traz fôlego aos nossos sonhos, sendo o principal motivo de sermos o que somos. É o esquecer de uma responsabilidade quando se é preciso, é ousar um mergulho no mar do desconhecido sem ter a ansiedade de falhar. É uma fuga do que as vezes poder ser o politicamente correto, o padrão que a sociedade nos faz acreditar — como uma prisão que tortura e oprime nossos corações.

É tirar forças para confiar em algo mínimo que se encontra em um universo máximo de possibilidades. Dar firmeza ao que é incerto, acreditar na conquista sem fraquejar, perseverando a cada dia. É simplesmente ser livre para buscar a segurança unicamente naquilo que sempre será inseguro. É dar boas vindas ao grande amor, cultivar cada intensidade desprovida de culpa, deixar de lado por um só segundo o verbo "julgar" e se perdoar por todos os erros que parecem ser incuráveis, mas que na verdade nunca foram.

A felicidade vem de dentro de nós. Mesmo de vez em quando, quando teimamos em esquecê-la. Bem devagar, ela pode ser decifrada e encontrada, nos guiando como uma estrela das nossas escuridões. É um sacríficio leviano de puro prazer.

Felicidade é usufruir, aproveitar, sentir a ruptura da brisa em nossos rostos. É nunca se apagar diante de uma chama imensurável.

É uma recompensa que vale a pena.

domingo, 31 de outubro de 2010

É tanto amor;
que já não cabe mais em mim.

Incontrolável.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Chuva de verão.

—Não vai. — Mesmo que ele não tivesse se expressado em palavras, eu poderia ter sentido através da firmeza de sua mão, que ele não queria me deixar ir. Ela pressionava levemente a minha nuca, tornando verdadeiro o seu pedido, em grande questão.
—Está chovendo. — eu me afastei um pouco do seu toráx, fazendo um movimento semicircular com meus olhos puxados, indicando as gotas que caíam do céu, que agora já esbarravam em meus cabelos. Será que ele ainda não tinha percebido?
—Eu sei.
Eu ainda não tinha interpretado o que ele queria me passar. Não fazia sentido nenhum ficarmos ali parados. Acabaríamos com um forte resfriado. Mas já que ele tinha pedido, permaneci ali mesmo, sentindo as gotículas de água golpearem meu rosto, deixando minha visão turva ao borrarem meus olhos.
A chuva ironicamente só aumentava, dando risadas do mistério dele. Tanto era verdade, que em menos de um minuto eu já estava totalmente molhado, mas ainda em silêncio, olhando de forma interrogativa para ele.
Taylor me olhou firmemente. Eu aprofundei minha visão sobre o mundo que ele queria me mostrar, curioso ao tentar mergulhar em seus mais profundos pensamentos. O mais impressionante é que ele sabia a hora de falar e a hora de se calar. A princípio eu realmente cheguei a pensar que ele só queria ficar debaixo da chuva mesmo, curtindo o nosso momento. Se isso era o que ele queria, não via motivo nenhum para recusar.

Mas não era só isso.

Ele veio até mim, com aquele sorriso inocente no rosto, disposto a realizar alguma besteira. Sua expressão era parecida com a de uma criança, inocente e muito feliz. Embora o frio me fizesse estalar os dentes, eu me prendia a cena, esperando ansiosamente por qualquer movimento. De certa forma, eu nem precisei esperar.
Ele estendeu o braço. Aquilo seria um aperto de mão? Eu retribui encostando minha palma a sua.

Mas quanta ingenuidade. Ele me puxou bruscamente, encaixando suas mãos pela minha cintura. Ele me soergueu sem nenhum esforço, e eu me senti cair pelos ares de forma invertida. A imensidão da noite me engoliu por um instante, enquanto eu parecia voar, com pouco metros do chão.
—Abra os braços. Sinta a chuva. — ele adicionou, tentando me equilibrar.
Eu segui a sua idéia, confiando nele. Se ele me soltasse, com certeza eu iria me espatifar no chão. Naquela posição, ele me manteve, descarregando as forças de seus musculos, agora, próximo das minhas coxas. Após um giro que fez todas a água descolar de meu corpo, esvoaçando os céus, ele me abraçou fortemente, e eu pude sentir seu calor passar mediante o ar gélido. Eu agora estava muito mais do aquecido, estava fervendo, pois a adrenalina tinha tomado conta da minha corrente sanguínea, borbulhando meu sangue.
Caí próximo do seu rosto. E os lábios quase se tocaram.
—Maravilhoso, não é?
—Perfeito. — eu respondi, meio atordoado.
A chuva escorria por todas as partes do meu corpo. E por estar tão próximo dele, não pude ver seus cabelos tão escuros em tom veludo, que agora resplandeciam a cor lunar. O momento era tão mágico, tão perfeito, que eu queria ficar ali para sempre. Eu tinha nascido para isso, para ficar ao lado dele.

Nunca pense que tudo está perfeito. Tudo pode melhorar.

Dessa vez, ele admitiu.
—Não posso prosseguir sem a sua autorização.
Como se eu pudesse recusar qualquer coisa, depois daquilo.
—Diga. O que quiser.
—Eu quero um beijo. Igual nos filmes, bem aqui. Nessa noite, nessa chuva.
Eu ergui as sobrancelhas, assustado. Eu com certeza, não queria discordar dele, mas precisava também ver o seu lado.
—Não acha demais? Alguém pode ver.
—Eu acabei de te erguer em uma posição totalmente indiscreta. Quem viu, viu. Sem contar o nosso abraço.
—Mas Taylor, isso pode te prejudicar. Você tem certeza?
—Sh. De que lado você está? Poder prejudicar, pode. A sociedade é a sociedade. E as coisas não são tão simples. Mas essa noite é nossa. Vamos fugir um pouco. É a nossa chance.

Suspirei derrotado. E antes que eu pudesse sequer recuperar o fôlego, ou sentir qualquer fáisca de felicidade, ele esmagou seus lábios aos meus.

Acho que nunca fui tão feliz.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sarah Marques.



O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.

Esse poema é você Sarah, por ser o amor.
Vou te amar por todos os dias da minha vida.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ar.



Fazia tempo que eu não passava por isso. Medo: não existia um significado melhor. Estagnação, resistência. Tudo acabava compondo um contexto.
Eu nunca tenho facilidade para pegar as coisas de primeira. No primeiro ato, eu sempre sou desengoçado, erro os nomes, troco os conceitos, não passo do meio de campo, tropeço até cair no chão. A perfeição para mim é fiel ao ditado: só se concretiza depois da prática.
Eu não me sentia assim fazia anos. Acho que pela primeira vez, eu soltei todas as amarras que me prendiam. Assuntos acorrentados do passado, que ressurgiam como ondas pesadas prontas para um belo caixote. Era outra dificuldade, largar o ficou para trás, aceitar a mudança, por mais desabituada e medonha que ela possa ser.
Entre o verde que me engolia pelos pedalos da bicicleta, eu me entreguei ao vento. E conforme a dança que as folhas realizavam em meu avanço, eu ganhava experiências com o meu deslocamento. O guidon desenfreado que antes tremia entre a sutilidade das minhas mãos, agora desistia levemente de balançar. Tive sorte pelo caminho não ser árduo, pelo menos não no começo. Prevendo um tombo racional, eu sempre prudente em meus contornos, percebi que essa era a hora para ser firme. Seria um péssimo momento se eu coordenasse meus caminhos sem garra alguma.
O show era meu. E como é maravilhoso: ser eu. Sem críticas, sem olhares. Pedantes, ou ousados. Sem reputação, auto-imagem, ou qualquer torre imposta para esconder meu interior.

Eu ergui a coluna, alcançando o céu. Respirei três vezes, tentando sugar todo o ar que flutuava sobre mim. A leveza pela qual meus pulmões vibraram bem cheios, me incentivou a acelerar ainda mais.
Eu hesistei, por um segundo.
Só na mente, quero dizer. O impulso nervoso, de alguma forma eufórica, me traiu. Um bloqueio desconhecido o impediu de chegar aos meus joelhos. Batidos de tão aquecidos e vorazes, eles rodavam o pedal, aumentando aos poucos a minha velocidade. A sensação de perigo subia pela minha coluna vertebral, eriçando cada pêlo, tremendo cada ligamento, provocando a adrenalina. Eu suspirei, tenso, com a minha situação.

A estrada era longa, banhada pelas arvores "fortíferas". Alongando, passo a passo, o corredor ia terminando. Aonde eu iria parar? Em um breve segundo, eu senti em meus capilares avermelhados que aquela seria a minha roleta russa. Quanto mais o rastro sumia, engolido pela natureza, mais eu projetava a minha coluna, levantando do banco, me livrando da minha escuridão.

Que raiz calculada me prendia ao chão? Um frio no estômago congelava meu fúnebro desejo. Seria a hora perfeita para ser racional. Ultrapassar a física, reduzir meus limites a zero, com certeza provocaria árduas consequências. Por mais que lei universal da causa e efeito (o que você colhe, você planta) estivesse passando diante dos meus olhos, eu optei por outra função.

Eu escolhi a derivada.

Um calor insano transformou abruptamente qualquer medo em pura exaltação. Eu urrei aflito, sentindo um vigor preencher minha insana escolha. O tempo que fora retardado em minha mente, voltava bem rápido à idéia real. Eu levantei o pescoço, engolindo seco, libertando minha alma, e seguindo minha tão sonhada liberdade.
Eu presenciei a ladeira, voando aos céus, enfrentando todo o ar em meus cabelos, tão uivantes no começo da subida, tão brisantes na descida do plantar. Durante a altura, eu esqueci da gravidade, eu fui pela inôcencia, pelo meu louco interior, buscando minha eterna aventura.
Eu me sentia vivo, em minha paz tão completa, esperada por mim e alcaçanda dessa forma tão simples e tão valiosa.
Quando eu toquei aos chãos, eu persisti no meu sonho. E quase subindo no tronco do além, entreguei erguido minhas mãos ao anil dos céus. E fechei meus olhos.
Fui para outro plano, outro astral.

Em uma parada perfeita na realidade, eu retornei confiante e orgulhoso de meu trajeto esvoaçante. Tão concentrado em meu rumo, nem percebi Oliver que se encontrava sentado na leitura de um livro, embaixo de uma arvore.
Para variar, minha mente foi projetada para realizar meus movimentos atraídos até ele. Eu freei, em uma pose sensual, jogando os pneus para a parte anterior do seu corpo. E apoiando minha perna, para sustentar a bicicleta no solo, sem descer.

Ele apenas sorriu, daquele jeito penetrante, dizendo.

—Foi o espetáculo mais bonito que eu já vi em toda a minha vida.

Meu sorriso quase deslocou minha mandíbula.
Esse era o meu original.
Tão étereo e leviano.

Como o vento.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Reação.

Sucesso.

Como se vida fosse uma roda implacável. Jamais poderemos parar seu giro. Teremos que aceitar com plenitude, todas as suas fases. Demoraremos anos para conquistar qualquer tipo de apogeu. Chegaremos ao topo, satisfeitos por nossos atos, seguros por nossa vitória e esforço tão bem aplicados. E então quando nós menos esperarmos, seremos revirados pelo avesso. O caos surgirá deliberado, reduzindo qualquer segurança a pó.

Fracasso.

Foi como se imagem a minha frente tivesse começado a se retorcer. Tudo o que antes estava claro, passou turvo bem diante dos meus olhos. Para todos os desesperados, foi como uma bomba, um terrorismo, uma explosão. Para mim, foi tão lento quanto contagiante. Como uma pequena gota de veneno em frenesi, à vista tão mínima, mas que uma vez disparada pela corrente sanguínea, não haverá nada mais mortal.
Houve uma agitação frenética naquela área hospitalar. O primeiro acontecimento veio de Taylor, é claro. Por dentro, uma faísca foi acesa, desencadeando um processo de combustão. Sua energia passou de uma plena calmaria a um trágico relâmpago, que fazia arder agora em fogo, todos os seus mais de seiscentos músculos.
Eu senti, irrevogavelmente a sua dor. Foi tão forte que meus joelhos tombaram. Eu arfei fortemente, após colocar a mão no peito tentando me livrar daquilo. Não era a toa que ele mal conseguia controlar o que pouco a pouco se espalhava. Afinal de contas, o que era aquilo?

Ele empurrou Julia, impulsivamente, com o mesmo braço que antes a segurava, deslocando-a em direção a parede. Ela bateu com as costas na margem dura, deslizando, sem reação até o chão. Taylor empurrou a maca, impedindo os seguranças de chegarem até ele. Logicamente, todos da sala já tinham percebido seu comportamento exacerbado. Bem de lance, eu percebi um médico que tremia aflito no preparo de uma seringa. A minha suposição é de aquela dose serviria para acalmar o rapaz.

Mas que falsa esperança.

Assim que o médico deu um passo para frente, foi acertado bem no peito com um punho fechado. Não é de se duvidar que tenha caído inconsciente no chão. Mas nessa hora, eu fechei os olhos e não consegui ver mais nada.
A tristeza de Taylor se espalhava dentro de mim. Ela crescia, amontoando-se com cada fragmento que aos poucos se fundia, tornando-se maior do que eu esperava. Na verdade, Taylor não existia mais. Foi como se toda a sua consciência tivesse sido sugada e posteriomente aprisionada em um cárcere composto por um material indestrutível. Aquele monstro não era ele. O seu Ki não me era tão familiar, comprovando o novo ser que agora regia seu corpo. Eu percebi mais pessoas entrando na sala. Algumas ao passar pela porta, pela velocidade, esbarram em mim. Por quê? Por que esse Ki tão faminto por raiva se espalhava mediante as suas células tão inocentes? Por que esse gosto incontrolável de machucar viciava suas veias, tão precisamente? Eu consegui abrir os olhos. O peso sobre mim era terrível, tanto que eu ainda estava abaixado, quase beijando o chão.

Mais seguranças chegaram. Eles tentavam ganhar o controle da situação. Com certeza, aquela não era a primeira vez. O artigo de Taylor persistia em relembrar os acontecimentos.
“Seu nome é Taylor. Um rapaz de dezesseis anos, que diz perder o controle da própria mente, chegando a machucar qualquer pessoa próxima ali existente.” Cada letra se transformava em uma atitude. E na prática é sempre mais difícil.

As pessoas que estavam ali zelando pela proteção de Taylor tinham métodos experientes. Mas não suficientes. As pistolas foram disparadas. Elas continham algum projétil paralisante. Foi nesse momento que eu percebi a velocidade descomunal de Taylor. Em uma gesto totalmente elaborado, ele se defendeu em pleno ar, desviando cada cartucho de substância ali contida. Ele recebeu um profundo choque, proveniente de algum dispositivo instalado, que fora mantido em sua cabeça. O menino até chegou a balançar para trás, mas persistiu em continuar intacto. Só que agora um pouco mais irado do que antes.

Julinha que tinha se recuperado, se aproximou rapidamente do rapaz. Mas que péssima idéia. Era notável que ele não conseguia mais discernir as pessoas. Antes que ela pudesse sequer tocá-lo, foi nocauteada ao chão, batendo o tórax e perdendo parte da respiração. Ela era forte, pois não desmaiou.

Ao sentir o sofrimento de Julia, eu de certa forma acordei. Depois de alguns segundos — que mais pareciam anos — eu consegui me estender de pé, me acostumando com aquela inacabável sensação. Eu tentava captar o máximo de oxigenação do ar, tentando forçar minha movimentação até ele. Um átomo de esperança ainda existia nos homens que achavam que poderiam parar a criatura que cada vez mais urrava por sangue. Os poucos que chegaram a encostar nele imobilizando-o, acabaram com seus ossos fraturados. Os outros que se aproximavam tinham medo de prosseguir.
O vapor aos poucos evaporava. O clima tenso se espalhava pelo lugar.

Medo.

Ele gritou assim que me viu. Eu gostaria de ter entendido o que ele estava tentando me dizer. Mas mal conseguia vê-lo, pois a força que eu fazia estava toda concentrada pra suportar o que ele me transmitia. Com as nossas energias conectadas, eu continuava a me arrastar pelo cômodo. Eu não podia falhar, não queria desistir.
Já por outro lado, eu conseguia ouvir o que todos me gritavam. As expressões das pessoas ali presentes me assustava. Não consegui focalizar nenhuma direito, mas eu sentia que no fundo dos poços emotivos, que todos temiam bravamente a minha aproximação.

Definitivamente, eu não tinha medo de morrer. Também não sabia se a distância entre nós dois seria suficiente para que ele pudesse me ouvir. O pior de tudo é que eu temia não conseguir falar. Estendi minha mão em direção ao seu peito nu desprendido, mas ele se afastou de mim, como um animal acuado.
Ele me olhou em tom voraz e eu localizei em uma fresta da sua retina o seu medo devastador. O único ali que não parecia ter medo era eu.
Como eu podia me arriscar tanto assim? Como eu podia confiar tanto nele? Tão cedo, assim? Para qualquer ser racional que me visse ali naquele instante, comprovaria com total certeza de que eu estava agindo como um louco. Mas eu não ligava. Eu só seguia o que me levava. O natural que surgia, a confiança que crescia e que me confortava a pleno ouvido. Foi uma das poucas vezes que percebi que o tempo não limita o coração.
Bem ali, naquela confusão, naquele flash de luzes amontoados, acomodados com sentimentos lançados tão fugazes, sem serem medidos.
—Está tudo bem. Eu posso sentir... — Como eu consegui falar?
Uma lágrima caiu, borrando o tom moreno das bochechas de Taylor. Eu paralisei diante da cena, entrando em vácuo profundo assim que meus pés perderam o contato com o chão. Tudo ficou escuro para mim.
O soco atingiu em pleno o meu estômago. Ele me levantou por um mínimo momento do chão, mas logo recuperei superfície suficiente para permanecer em pé. No momento, só aquilo que importava. Só ele existia ali, diante de tudo. Nada físico podia me derrubar.

Ele chorava por mim, ansiava pela minha chegada. Eu conseguia sentir. Mais do que o soco, eu sentia na pele o quanto Taylor sofreu ao me acertar. O quanto ele jamais se perdoaria por isso. Ele chegou a desejar até a morte de tão arrependido. Ele preferia morrer a deixar aquilo controlar sua mente.

A roda girou novamente. O fato dele ter me machucado ativou o estopim para que o sol surgisse perante as sombras que obstruíam as suas emoções. O muro que envolvia o espírito de Taylor, toda a sua essência, começava a desmoronar. Antes oprimido, agora eu enxergava uma luz. Como se ele estivesse ali, tão atingível quanto desabilitado, sem forças para se levantar. Eu segurei o seu punho contra a minha barriga, ou melhor. Eu segurei a sua mão.
O ar que me faltava chegou novamente em meus pulmões de uma forma lenta, me aliviando. Por alguma sorte, eu não desmaiei. Com muito cuidado, afastei a mão fechada do menino, que tremia e lutava contra a sua furiosa entidade para não me acertar novamente.
—Taylor. Eu sei, eu sei. Eu sei o que você sente. Eu sei que você está aí.

Ele levantou a mão acima da minha cabeça. Nessa hora, seu tronco parecia muito estufado, como se ele fosse um lobo selvagem, louco para capturar a sua presa. Julinha soltou um grito agudo. O próximo golpe seria o último. Esse seria meu fim. Eu não me deixaria cair. Agora que Taylor estava do meu lado. Como eu poderia permitir isso?

Meu corpo se lançou. Nessa hora eu dancei em um tom rítmico, fui espontâneo e livre, como o vento. Alcancei seu pescoço, soltando a respiração, tão contente por senti-lo em mim. Fechei meus braços em um movimento repentino, depositando ali meu ultimo desejo tão fervoroso, minha ultima salvação. Meu carinhoso suspiro de calor.
O seu ato que por um instante, fora malévolo foi se minimizando. Não havia mais nada de perigoso a ser sentido, nenhum alerta a se temer. Suas mãos apertavam desesperadamente as minhas costas, forçando aquela situação a diminuir, a se quebrar.

Até sumir.

Ele expirou, inspirou, como se todo o ar presente na atmosfera não fosse o suficiente e apenas não tombando ao chão, porque eu estava ali. E porque ele desejava isso mais do que tudo.
—Eu vol-voltei. Você me fez... — ele suspirou em meus ouvidos.
—Você se fez voltar. — eu tentei corrigi-lo.
—Não... Não... Eu nunca voltei antes, até... — ele não pronunciou a palavra. —Foi você, Bruno.
—Descanse.
—Eu não existo mais. Não sem você.
—Vai ficar tudo bem, a partir de agora.
Ele chorou em meu ombro, quase morrendo em felicidade sinestesial.
—Eu tava com tanto medo. Eu não... Eu não...
—Eu sei, eu sei. — e eu sabia mesmo.
—Não me solta. Não-não vai...
—Não vou embora. Jamais deixaria você.

Ele não falou mais nada. Diante de todos, ele permaneceu ali parado, colado a mim, com medo de deixar. Com ânsia para me largar. Nós nunca mais iríamos nos separar. Estávamos com as almas entrelaçadas.

Nosso amor finalmente estava comprovado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Bach.



Se você pudesse escolher um local para encontrar o amor da sua vida, qual seria? Optaria por um restaurante reservado, banhado apenas a luz de velas, ou quem sabe um imenso jardim florido, com dezenas de cores entrelaçadas? Se apenas por um dia, você pudesse saber do seu futuro. Como você montaria o seu primeiro encontro? Com um tropeço casual, um bilhete romântico, ou uma serenata composta por ricos versos em poesia?
Quem nunca projetou um sentimento? Idealizar faz parte da vida. Tentar criar laços com o desconhecido é apenas uma esperança de que algo positivo seja atraído. Comigo, deu certo. Porém, com muita cautela. Nunca me perdi entre os meandros de meus sonhos. O diferente, é que a vida me surpreendeu. Tudo aconteceu de uma forma que eu jamais esperaria. O que parecia ter-se perdido, minutos atrás, se encontraria tão intacto quanto firme, meses depois.
Não. Essa é a resposta. Se eu pudesse eu não voltaria atrás. A maneira a qual conheci Taylor foi essencial para que a nossa paixão crescesse vagarosamente. Caso eu tivesse tomado consciência da paixão que eu sentia por ele, no momento em que nossos olhares se esbarraram, talvez mais tarde, eu não tivesse tempo para construir com toda a minha dedicação o nosso mais puro amor. A verdade, é que eu não gosto das coisas perfeitas. Só somos perfeitos, quando incorporamos nossas imperfeições.
Ao sair do colégio, eu ainda estava muito insatisfeito com as nossas idéias opostas. Mais uma preocupação futura em vão.

Ele era rígido em seus argumentos. E eu, sempre envolvido com a sua teimosia, não desistia de tentar mudá-los. A minha idéia era de que tudo teria terminado. E que nós realmente não combinávamos. Mas é claro que embora as pistas indicassem isso, o desfecho seria totalmente diferente. Afinal, não faria sentido eu redigir um livro, tão tedioso assim. Se a minha vinda à Alemanha tivesse sido tão monótona, provavelmente eu não continuaria na escrita deste capítulo.

Continuo com a teoria de que tudo acontece por uma razão.

Pela paisagem, eu me encontrava na parte de trás do colégio. A minha primeira visão foi construída por um campo sintético. Andei ao lado das grades retorcidas que contornavam as tintas brancas laterais, desenhadas na grama. Elas se estendiam pintadas formando o círculo do meio de campo até o fundo da quadra. O sol, dessa vez, não fazia efeito nenhum. Apertei minhas costelas, petrificando diante do frio. A piscina olímpica não estava vazia. Os professores ajudavam os alunos com os exercícios de aquecimento. O atletismo, presente em uma das quadras, lembrou minha época colegial ao lado de Luis, onde nós corríamos para conseguir participar das olimpíadas anuais. O chão rico em poeira avermelhada era refinado por linhas traçadas. Elas formavam a trajetória a ser percorrida. Lógico que de metros em metros, havia obstáculos certeiros que deveriam ser ultrapassados.

Tática do destino ou não, eu estendi meu olhar a esquerda, notando um casarão de madeira. Hoje em dia, mais do que nunca, posso comprovar de que tudo é ligado por uma teia de acontecimentos. Quando você modifica uma ação, isso afeta uma onda de consequências. Se eu tivesse acertado a saída do colégio, talvez não tivesse encontrado com a casa soerguida em estilo oriental. Mais para frente, eu daria conta de mais uma forte paixão.

A primeira vez em que o vi, ele estava com um formoso quimono branco. Por sorte, ele não notou minha presença. Naquele instante, ele nem fazia noção de que eu assistia a todos os seus movimentos. E que bom. Jamais desejaria que ele perdesse a sua livre espontaneidade. Oliver se sobressaía muito além de toda a sua personalidade, quando agia de forma natural. O seu espetáculo estava sendo todo dedicado a mim, já que só eu podia desfrutar daquilo.
Com um saco pesado de areia pendurado pelo teto do dojô, ele treinava a sua velocidade. Abria sua postura, sempre de forma suave, e em menos de um segundo, batia com a sua canela, deslocando o objeto a metros de distância. Ele tinha uma boa precisão. Mas ao me concentrar, senti através do seu Ki alguma força de vontade retida. Por causa dela, seu treino ainda não havia se desenvolvido da forma que ele queria. Qual seria o motivo dessa retração? Por que será que lhe faltava confiança?

Oliver esbaldava beleza. Ele era o próprio Deus grego, só que em carne e osso. Por incrível que pareça ele era humano. Não se preocupem. Eu também demorei, para acreditar nisso. Mas não queria confundir minha realidade pela segunda vez no mesmo dia. Já bastava Taylor.
O seu cabelo era descomunal. À medida que ele se movia, buscando aperfeiçoar seus socos nas brisas etéreas, o tom loiro de seus fios reluzia contra os feixes do sol, os quais ousavam entrar pelas frestas das janelas superiores. O brilho cegava meus olhos, e eu só me acostumaria com aquilo, dias depois. Era liso, sempre bagunçado, sendo do tipo que você ajeitava de qualquer forma e ficava naquela posição. Sobre os seus olhos... Nem tenho palavras. Quando penso no contraste, eu perco o ar. Para que ter o céu acima de você, se você podia olhar diretamente para os olhos de Oliver. Era uma imensidão anilada inexplicável. Um azul tão cintilante que eu conseguia percebê-lo à distância.
Ele era quase da minha altura. Alguns centímetros mais baixo do que eu. Bem mais forte. Seus músculos definidos davam total controle às suas ações. Ele não era desengonçado. Tinha um ar de moleque ao se mover, um tão inocente. Buscando se aventurar sempre no próximo desafio que estiver por vir. O seu esforço mental ia além de qualquer limite físico.
Parado a porta, eu massageei levemente com a língua meu lábio inferior. Terminei com uma mordida. Não tinha como não se excitar com aquilo. A postura masculina era bem representada por ele. Bom, eu não poderia ficar ali para sempre, embora eu desejasse isso. A sua concentração desmoronou assim que ele me viu. Ele ficou sem ação, tanto quanto eu.
—Ah, desculpa. Eu... Eu-eu só estava passando e... — eu gaguejei na explicação.
Ele falou algo em alemão que eu não entendi. Repeti minha última frase em inglês, explicando que eu não entendia a língua alemã.
—Que isso. Não precisa se desculpar. — ele sorriu. A partir de agora podiámos no comunicar.
—Se você quiser pode entrar no tatame. Não me importo de continuar com você observando.
Já posso morrer? Eu aceitei seu convite. É lógico.

Fui até um banco de madeira colado a parede, onde me sentei. Ele pegou uma toalha e enxugou um pouco o seu suor. Já não bastava ser bonito. O garoto era simpático.
—Você é aluno novo? — ele pulou, dando um chute no ar. Um perfeito exibicionista. O saco de pancadas cambaleou. Quando ele voltou ao chão firme novamente, acabou se desequilibrando. Cheio de vergonha, abriu mais um belo sorriso.
—Não. Eu vim realizar uma entrevista.
O sorriso largo de Oliver sumiu. Seu Ki se retraiu, concentrando-se.
—Ah, uma entrevista?
—Sim. Fiquei sabendo de um caso polêmico por aqui.
—Sim, claro. Quem não sabe.
Ele aqueceu suas pernas, em curtos movimentos agitados antes de chutar de forma lateral, novamente. Seu Ki antes concentrado, agora se espalhava como uma pólvora entrando em contato com o fogo.
—Estou tentando o cargo de psicólogo.
—Do Strauss?
Sua voz foi como um relâmpago no silêncio do lugar.
—Sim. Taylor está com problemas.
Após os sucessivos socos descontados, pude perceber que aquilo causava raiva no rapaz. De algum modo, ele não admirava Taylor. Mas eu não seria tão impulsivo ao me intrometer nisso.
Ele caminhou até mim, sentando do meu lado, nada cansado. Apoiou a toalha de rosto no ombro, e com o quimono semi-aberto, vi parte do seu tórax exuberante.
—O que você acha?
Por um milésimo de segundo eu pensei que ele estivesse se referindo ao próprio corpo.
—Como assim?
—O que você acha que ele tem? — ele se cobriu com a toalha, para enxugar o suor. Foi a única vez em que eu perdi o contato com o seu rosto.
—Bom... Eu não tenho muitos dados sobre o caso ainda. Eu estive apenas alguns minutos com ele.
—E você acha que ele fala a verdade?
—Eu espero que sim.
—Mas será que realmente é possível? Essa história de perder o controle. Você sabe... Perder o controle sobre a mente.
Eu ri expelindo minha respiração, sem forçar.
—Bom, acho que sim. Mas não sei como isso pode acontecer.
Oliver se perdeu em pensamentos. Eu continuava estudando sua movimentação interna. A energia dele me acalmava. Ao contrário de Taylor, que acelerava qualquer percurso.
—Ah, então. Sou Oliver. Oliver Bach.
—Prazer. Eu sou Bruno.
Ele esperou pelo meu sobrenome, mas eu não sou acostumado com esse padrão de apresentação. Ele apertou a minha mão, mais firme do que eu esperava.

—Então... Explorando o colégio? — nossa conversa era formada de risos de cinco em cinco segundos.
—Eu saí pelo lado errado. Fiquei curioso em conhecer as áreas esportivas, quando te encontrei praticando.
—Você gosta de Karatê?
—Eu adoro qualquer arte marcial. Eu pratico ninjutsu, por isso fiquei te observando.
—Ninjutsu? Que raro. Já ouvi falar da arte, mas nunca conheci ninguém que fizesse.
Ele tirou uma garrafa d’água da mochila. Estava sedento, por isso parte dela escorreu pelos cantos da sua boca.
—E então, você gostou?
Mas que mania de fazer perguntas sem o complemento verbal. Objeto indireto por favor.
Ele leu a minha cara de interrogação.
—Você gostou, dos movimentos?
—Sua postura é bem baixa e precisa. É rápido no que faz. Você tem um bom talento.
—Você fala como se tivesse muita experiência com o assunto. Pratica ninjutsu faz quanto tempo?
—Tem cinco anos. Você?
—Faz uns 10 anos.
Ele se levantou, deixando a garrafa de lado.
—Gostei da sua confiança. Gosto das pessoas que são seguras.
Segurança. Era exatamente o que faltava nele. Era normal ele reconhecer isso em outra pessoa. Já que era algo ausente em si mesmo. Ele prosseguiu.
—Vamos testar sua técnica.
Eu dei um pulo do banco, rindo descontraído.
—Que isso. Nem estou vestido apropriadamente. — apontei para a minha calça Jeans.
Mesmo improvisando uma desculpa muito coerente, não consegui fazer com que ele desistisse da idéia. Ele enfiou a mão dentro da mochila fazendo uma calça brotar diante de meus olhos. Era branca, de um tecido macio.
—Toma. Só precisa vestir.
—Isso é serio? Você é tão competitivo assim?
—Ah, que nada! Só quero me divertir um pouco. É difícil encontrar gente que pratique por aqui. Especialmente alguém que saiba cultivar uma boa conversa.
—Anh. Não sei. Será que cabe?
—Lógico que sim. Temos medidas quase iguais. Vamos lá, sem mais desculpas.
Suspirei, derrotado.
—Ok então. Vou me trocar.
Oliver sabia que mais cedo ou mais tarde eu cederia a sua proposta de luta. Ele já tinha sacado a firmeza em meus olhos.

Firmeza que ele passou a vida toda procurando.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

(In)Justiça.



O signo de libra traz à tona a Justiça. Quando falamos em Justiça ativamos a lei da Causa e Efeito, dando ênfase à palavra resgate. Tudo o que acontece a nossa volta é resgate das nossas ações, sendo nossas causas puras consequências.
Merecemos receber aquilo que temos direito. Mas se isso diz respeito ao bom, por equílibrio, indica também o mau. Como eu mesmo costumo repetir. Temos o livre arbírtrio para realizarmos o que quiseremos. Porém, saibamos que a semeada é livre, porém a colheira, obrigatória.

Muitas vezes julgamos a vida como injusta. Chegamos a culpar até mesmo Deus por espalhar a injustiça. Questionamos o mundo que Ele criou perfeito, sem levar em consideração o nosso próprio viver imperfeito. Pedimos justiça para nós e negamos ao outro o que poderíamos dar sem esforço, para alivar o seu sofrimento. Não julgar para não ser julgado. Não medir para não ser medido é o ensinamento cristão que nos alerta para a falta de justiça. Dessa forma, usamos pesos e medidas diferentes para nós e para os outros, para os que amamos e para os que odiamos, esquecendo que todos nós temos os mesmos direitos. ;)

Queremos ser sempre perdoados, pois "tivemos nossos próprios motivos" afinal, temos consciência e não somos malucos. Mas não paramos, nem um momento sequer para analisar o motivo alheio. Tomamos decisões sem a conversa com o próximo, porque muitas vezes nos decepcionamos com suas ações. Mas não percebemos, que do outro lado, podemos estar fazendo a mesma coisa.

Vivemos ansiando por justiça. Vivemos reclamando pela falta dela aqui e ali. Mas a verdadeira justiça vai além dos nossos conceitos maniqueístas de bem ou mal, justo ou injusto. Vivemos num mundo de ilusão e engano e não é de admirar que a nossa justiça seja muitas vezes: ilusória. Uma justiça que teoricamente recompensa os bons e pune os maus. Exatamente como nos filmes, onde o mau age totalmente para o mau e o bem sempre é bondoso. Mas o que se pune lá, nos contos de fada é o mal personificado em um ser e não alguém específico. Até porque o mal e o bem são faces opostas na mesma moeda, o que indica que não existem pessoas 100% boas ou 100% más, mas sim humanas.

Passamos a vida inteira condenando os maus sem perceber o bem que há neles e nos decepcionando com bons, porque não reconhecemos o mal que os habita. Nos consideramos bondosos e queremos todos os elogios e recompensas por isso, sem perceber que precisamos incorporar o nosso mal, os nossos defeitos e sombras.
Temos medo de descobrir nossas feras ruins, porque tememos a reação das pessoas. Mas só poderemos nos tornar justos, depois que aceitarmos nossas injustiças.

Vivemos numa cidade violenta como o Rio de Janeiro, somos bombardeados todos os dias comc enas de injustiça social e criminal. Centenas de pessoas inocentes morrem a caminho de seu trabalho, adolescentes são espancados e mortos. Confundimos policiais e bandidos, sem podermos confiar em qualquer ser humano. Nos indignamos frente a televisão.
—MEU DEUS, ISSO É UM ABSURDO.
—CADA DIA O MUNDO FICA PIOR.
—A VIDA É UMA DROGA.

Nos indignamos contra quem? Contra policiais? Bandidos? Gorvernantes? Ou contra nós mesmos passivamente sentados na nossa sala, profundamente chocados e incrédulos, paralisados pelo medo? Incapazes de compreender que com o nosso silêncio e medo somos tão torturadores quanto os que espancam e matam?

O pior ato ato da violência nas cidades grandes, foi a morte da solidariedade. Hoje se vemos um carro parado com alguém caído sobre o volante, não o socorremos, pois pode ser aramadilha ou pode ser um bandido. Se alguém grita por socorro, corremos, mudamos de rumo. O medo superou a solidariedade humana.E o que é pior: com o nosso medo, sequer percebemos que o que se colhe, se planta. Um dia desses, gritaremos por socorro e só reconheceremos o eco da nossa própria voz.

Nós escolhemos o céu e o inferno com as nossas ações. Devemos, porém, ter em mente que todos os que alcançaram a iluminação, santos ou hérois, tiveram que descer aos infernos para adquirir o mais alto grau de evolução. Para serem, enfim, incluído no reino dos JUSTOS.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Quebra.

Quando o impacto me acertou, tenho certeza de ter visto o rasgo que aquilo me causou. O problema é que eu ainda estava incrédulo com o momento. Anestesiado, por ele ainda estar ali. Não entrei em pânico, porque a esperança é a última que morre. Quem sabe ele poderia voltar atrás?
Trapo sujo de ilusão.
No fundo da minha alma, não existiria nada, mas nada nesse mundo que eu desejasse mais do que tudo: que tudo fosse uma mentira. A sua decicão se tornou infalível, assim que ele virou de costas, me deixando ali, parado, sem amparos. Desconfio que durante alguns segundos, ele tenha esperado alguma palavra minha sair. Logo se certificaria, que meu silêncio seria perpétuo e então, seguiria seu rumo.

Vocês sabem muito bem como é. Na hora, não sai nada, você ainda está atordoado com a pancada repentina. Como uma grande surpresa, que nunca esperamos receber, mas quando recebemos não temos reação. Ou até a expressamos, só que em excesso. Na hora, nunca dói tanto. A destruição começa, quando ele vai. Quando você se entorpece de pensamentos que alastram a sua cabeça de dúvidas. Quando você não sabe no que vai dar. Mas foi melhor ele ter ido. Por mais que eu quisesse fugir da realidade, não seria saudável para mim.

Viver é melhor que sonhar.

O céu não estava escuro. Pelo menos, não enquanto pude desfrutar do grande espetáculo a minha frente. Era impossível pisar pela sala, sem olhar o magnífico cenário que Baden sempre me proporcionava. Não houve nenhum momento, por mais apressado que eu tenha entrado no cômodo, que não tenha congelado, ao me deparar com larga montanha, cheia de gelo acumulada em seu topo, o qual escorria elegantemente, até a sua base.
Dessa vez a dádiva das minhas tardes, não possuía um pôr-do-sol. Talvez eu pudesse ficar satisfeito apenas com o manto acinzentado que agora cobria a minha tão adorada brasa ofuscante. O sol da Alemanha sempre fora o ideal para mim. Como o frio nunca desistia de balançar os meus ossos, o calor não ficava tão sufocante, comparado ao inferno do Rio de Janeiro. Agia como uma brisa melódica presente no vento, sempre cantando em meus ouvidos. O tom das cores frias, coberto pelo silêncio importuno do cômodo, — com exceção dos sentimentos que explodiam como fogos de artifício — respeitava o vazio que eu sentia por dentro. E isso me consolava de certa forma. Mas confesso, que fiquei ligeiramente incomodado pela ausência das texturas mais quentes. A minha última esperança era que elas aquecessem o meu tão lamentável coração, que regia, agora unicamente em forma de uma implacável lápide glacial. Logo, ele ficaria tão rígido, que se romperia em pedaços. Não demorou muito, para que a minha afirmação se tornasse realidade.

Eu me enganei centenas de vezes. Primeiro, porque eu sabia que não poderia lutar contra a minha tristeza. Minha vontade de afastá-la era menos perseverante do que a sua insaciável sede de me alcançar. Adiar o sofrimento era como pular de um penhasco, tentando cogitar uma mínima probabilidade — por menor que fosse — de sobrevivência. Também me decepcionei em achar, que seria suportável. Eu sabia que não seria fácil.

Apenas não pensei que pudesse ser tão difícil.

A perda aos poucos, me consumia. Alimentava o meu vazio, triturando a minha razão de existir. Ela ficou ali sentada ao meu lado na cama, sugando a minha respiração, destruindo meus órgãos internos, em um ritmo cortante, muito ardente. Taylor sempre fora a chave da minha felicidade. Sem ele, o caminho ainda estava lá, esperando para ser seguido. Só que agora, sem luz. Sem proteção. Sem vontade. Agora a minha única companheira era a dor. Vocês podem dizer o que quiserem dela. Que ela te faz crescer. Que muita vezes, age injustamente. Mas vocês nunca poderão duvidar de que ela é muito capaz no que faz. Exerce perfeitamente, o seu trabalho.

Tudo estava preso dentro de mim. E eu estava pagando caro, por não aceitar o que estava me invadindo. Por não enfrentar que as coisas tinham mudado. O preço era bem alto. O suor desceu evoluindo o nervosismo, mas as lágrimas não. A vermelhidão ainda estava presente em meu rosto, arranhando cada canto nele presente. Antes que eu pudesse surtar, com a dor que imperceptivelmente se transformava em raiva, escutei um ruído na porta. Tentei falar, mas não consegui. Ao ousar me mover, vi que era incogitável.

Dessa vez o som foi mais alto. Aquela altura eu estava em outro mundo e nada mais me importava. Eu subestimei a minha viagem, pois retornei ao solo, mais rápido do pensei. Assim em que eu escutei a sua voz. Recuperei a minha energia, correndo até a porta e abrindo-a com um movimento só. Ela bateu do outro lado, tremendo escancarada.

—Desculpa vir de repente. Mas eu precisava te ver.
—Oliver!

Fechem os olhos. Deêm a mão para a escuridão que vier a surgir. Desenhem um copo. Ele tem um determinado volume. Ele está sendo cheio por qualquer substância que vocês queiram imaginar, vai de agrado a cada um. Ele chega ao limite, passa do limite. Mas o inesperado acontece. E a lei da física é quebrada. Ele não transborda. Apenas vai enchendo, enchendo e enchendo. Havia algo que o impedia de ser derramado, ou melhor, despedaçado. Esse limite simplesmente sumiu e a dor finalmente descolou de minha pele, evaporando. Ela não foi embora completamente e eu sabia que a partir de agora, agiria como uma erva-daninha em minha alma, fincada em mim, durante praticamente toda a minha vida. Iria diminuir com o tempo, que não é bom em curar e sim, em habituar. Mas em algum cheiro, música ou lembrança, novamente ela estaria lá, nostálgica e simplesmente invencível.

Oliver era o catalisador da minha reação. A partir dele, eu encontraria aos poucos o perdão em mim. Sei, que o ideal seria achá-lo através do meu autoconhecimento. Mas dessa vez, a dor estava dissolvendo o que antes me sustentava. E eu precisava do meu amigo ali. Dessa vez, eu precisava me reerguer, com ele.

Depois de alcançar o seu pescoço — o que não fora difícil porque Oliver era apenas alguns centímetros mais alto que eu — chorei bem alto em seu ombro. Soltei um intenso gemido, mas não em tom alto e sim estendido. Ele me segurou pela cintura, um pouco encolhido e preocupado. Fez um leve cafuné em meus cabelos. Com os braços cruzados entre si, envoltos à sua cabeça, pude me sustentar, apertando-o com muita força, praticamente tentando atravessar o seu corpo ao meu.
—Não consigo respirar. — disse.
—Desculpa. — eu falei tão rápido, que atropelei todas as letras da palavra. Depois de um tempo percebei, que ainda não o tinha soltado.
—Ainda não consigo respirar, é sério. — eu notei a dificuldade na sua fala, por causa da falta de ar e consegui me desprender do seu abraço, por um instante. Ele me encarou.
—O que houve?
Eu enxuguei três vezes os meus olhos — todas em vão, pois as lágrimas continuavam a sair, com velocidade — retomando aos poucos a noção do lugar a minha volta. E notei que estava apenas com uma blusa social, cobrindo parte da cueca e deixando as pernas a mostra.
—Desculpa, não tive tempo de me trocar... — coloquei a mão no rosto. Meu Deus como eu devia estar horrível! Com um rosto péssimo, cheio de olheiras, igual a um defunto. Ou pior. Ele não precisava suportar aquilo. Eu consegui continuar a falar, em um ritmo bem frenético.
—Sério, desculpa mesmo. Eu devo estar com uma cara péssima. — ele revirou os olhos. Já era a terceira vez que eu me desculpava. Parecia que era a única palavra que eu conhecia do dicionário.
—Deixa de bobeira Bruninho. Você é lindo de qualquer jeito.
Eu sorri instantaneamente. Ele sorriu de volta, retribuindo. Mesmo assim, eu ainda tentava me esconder, entre as mangas cumpridas da minha blusa.
—Pera, deixa eu me trocar. — não falei pela aparência, falei mais pela roupa. Eu estava quase nu.
Ele me segurou, me trazendo para próximo do seu rosto. Meu nariz quase raspou o dele.
—Não precisa, assim está ótimo.
Eu arfei, com o seu olhar penetrante.

—Foi ele não foi?
Ele se referiu a Taylor. Eu hesitei, ficando quieto. Por algum motivo, não consegui negar. Foi quando percebi que, sem querer eu tinha dedurado a ação de Taylor. E Oliver não pensaria em descobrir qual era. Ele só pensaria no resultado. Na dor que ele me causou.
—Eu vou atrás dele.
—Como é? — sabe quando você está tão lerdo que não consegue receber a informação?
—Ele merece uma surra.
—Oliver. — eu disse bem firme.
Ele me ignorou, praticamente bufando, indo em direção ao elevador.
—Oliver, não!
Minha voz ecoou pelo corredor. Em uma tentativa irracional de correr até ele, acabei cedendo à fraqueza no caminho. Minha visão ficou turva, e quando pensei que fosse desmaiar, ele me acudiu. Ele me levantou devagar. Tentei controlar as palavras, mas essas foram mais rápidas do que a minha mente.
—Não vai, fica aqui... Comigo.
Notei meus olhos ficando túrgidos novamente, e retornei ao choro. Me lancei no meio do seu peito, colando meu rosto bruscamente e então, desabei. Não estaria exagerando caso dissesse, que molhei grande parte da sua camisa.Uma das mãos se fechou em um punho e descontei a raiva socando levemente seu tórax. Alguns gritos, abafados foram soltos, em tons suportáveis. A fera dentro de mim, se manisfestava aos poucos, sendo dominada.
—Chore o quanto puder. Para não chorar nunca mais por aquele infeliz.
Ele apoiou o queixo em minha cabeça, me apertando junto dele ainda mais. Aquilo foi bom, e a dor se amenizava, gradualmente. Ficamos ali, durante um tempo, até me certificar de que toda a água que fazia parte do meu organismo, havia sido expelida em aflição, através de meus olhos.
Bom, não posso negar o quão difícil de cursar, estava o meu caminho. Mas a escuridão, agora se fora. Oliver fazia parte da superação. Eu não precisava de tempo, mas sim da sua sua amizade. Do seu amor. O penhasco não existia mais.
Ele era a luz capaz de me guiar, me ajudando a contornar cada pedra que fosse aparecer.
E essa luz, jamais se apagaria.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Solidão (A)temporal.



Dê a mão a você mesmo. Ame sua solidão. Apenas com a solidão, você é capaz de maturar suas idéias. Somente nela você consegue encontrar a própria luz e saída só para depois iluminar o caminho do outro. É importante, que cada início tenha uma gestação duradoura, antes de ser realizado. E não há análise melhor proveniente de uma boa introspecção.
A solidão deve ser prosseguida com sabedoria. Sabedoria de ter em mente, que sempre é necessário se seguir adiante, sem se apegar às próprias criações. Tudo é cíclico, nada se mantém em seu apogeu, como também não permanecece para sempre em seu fracasso. A maioria das pessoas sofre porque não entende que a vida é feita de fases e ela é mutável a cada momento. Quando tudo parece estar bem, as coisas mudam, da água pro vinho. A nova fase deve ser já adaptada para que seja bem aproveitada. Se não aceitarmos as mudanças da vida, ficarremos parados no mesmo lugar, sem uma atividade adequada para o progresso, já que nada é imutável. Se seguirmos esse caminho um tão saudável, poderemos evoluir com sabedoria.
A energia da solidão faz com que a gente perceba, que apenas com silêncio é que poderemos alcançar a grandiosidade do que a gente é, lá no fundo onde se encontra a nossa originalidade, fonte de novas soluções. Ela é que irá construir um futuro dotado com um grande frescor. É necessário que as nossas paixões sejam descobertas através de nossos talentos, caso isso seja conciliado, teremos um grande caso de amor com nós mesmos.

"A relação mais importante é aquela que a gente tem consigo mesmo." - Sex And The City.

Quem sabe viver por si só, independente dos sentimentos dos outros, alcança aos poucos, a individuação. E assim aprende a respeitar o próximo, sendo paciente quando as expectativas não são aquelas tão esperadas. São pessoas que entendem que o tempo é a chave necessária para a análise, que embora não deva ser tão demorada, precisa ser clara, para que os fatos aconteçam. Quem entende a energia da solidão, é sereno e não agressivo, pois sabe que nenhuma luta detém o poder do tempo, que te mostra todas as verdades. Assim, não se esconde, nem se tenta manter uma auto-imagem, pois descobre-se que nada pode nos esconder de nós mesmos. A verdade, que sempre se mantém intacta, ceifa tudo o que for aparência, deixando apenas o brilho interior. E não o falso brilho proveniente daquilo que gostaríamos que o mundo pensasse de nós.

"Não se deve ter pressa, a verdade é única e tudo tem o seu tempo determinado. Há tempo para todo propósito embaixo do céu; tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de derrubar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz."

Só os entendimentos desses tempos, nos fará compreender, nos fará unir esses opostos. E assim transcender a dualidade, superando o medo. Que é a fonte da sofreguidão com que queremos usufruir o nosso tempo e aguardar com fé nossas conquistas e perdas, nosso riso e nosso choro. Tão opostos, mas tão iguais, tão únicos.

Só então, poderemos entender que tempo não existe, a não ser em nossa mente dualista, separada do todo atemporal.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Equilíbrio entre a ação e a análise.




"A palavra é de prata, o silêncio é de ouro."

A Linguagem que o mundo nos propõe nem sempre é ouvida por nós. Isso é um eterno desperdício. Linguagem não é só fala, mas sim sinais. Se você tem dois ouvidos, você deveria escutar mais do que falar. Se tem dois olhos, é porque é necessário observação. Só se progride na vida com experiências. Cada uma delas, deve ser colhida e guardada em uma caixinha. Quando precisamos rever situações, a abrimos e pronto. Só falta se lambuzar com o empuxo das lembranças, que nos fazem transbordar de emoções. Quando se abusa das palavras, com vocais além da conta, a pessoa desvirtua sua própria atenção, deixando a melodia passar despercebida sob seus ouvidos. Que no momento, só servem de decoração.

A Linguagem do mundo só pode ser ouvida pela intuição. Ela está entre nós, porém é muito sutil e nada nos revela, apenas sugere. Por mais que você vanglorie o princípio da ação, é errado fazê-lo, sem antes analisá-lo. A Linguagem do mundo nos lembra, que tudo deve ser feito com reflexão. Quando agimos de forma impulsiva, nem sempre realizamos aquilo que desejamos e podemos cometer erros imprencendíveis. A liberdade tem o seu preço: o livre-arbítrio; e esse, por sua vez, também possui o seu peso: a escolha do caminho correto. Uma vez escolhido, não há como voltar atrás.

A personalidade se desenvolve do interior para o exterior. O estudo da intuição acontece quando nos reservamos, praticando o nosso autoconhecimento. Porém, às vezes podemos agir de uma forma introspectiva demais e nos isolarmos do mundo a nossa volta. É bom estarmos atentos para não escondermos coisas demais, assim poderemos nos tornar muito passivos e fugir de nossos problemas, quando o melhor é resolvê-los. Experiência, lembra?

Os domínios da intuição para o despertar de nosso sexto sentido é o reino dos segredos. Aprender a usá-lo de forma correta é a chave para o sucesso. Deve-se saber a hora de falar e de se calar. Quando crescemos em nosso interior e nos conhecemos, aprendemos mais sobre as pessoas a nossa volta. E acabamos por julgá-las, de um jeito menos intenso, bem mais humano.

Quando nós não conhecemos nós mesmos, isso atua como uma sombra em nossas relações. Devido a falta de autoconhecimento, atraímos situações em que nada parece ser o que é. As aparências passam a nos enganar, traímos e somos traidos, refletindo a nossa traição interna. Velhas mágoas povoam o nosso relacionamento, pois não conseguimos ser nós mesmos (nós não sabemos totalmente quem somos), já que carregamos de outras relações mágoas, saturações e ressentimentos.

Quando tudo do passado invade o nosso presente, isso indica assuntos intermináveis. Pontos finais que não foram postos. Quem se satura em uma relação, proveniente das outras, não foi porque não teve tempo de descanso. Foi porque não soube esvaziar sua mente de uma forma saudável (ou considerável).

Acreditamos que somos enganados, que nos escondem algo e muitas vezes isto até é verdade, pois atraímos o que somos e na verdade, SOMOS NÓS que escondemos dentro de nós os segredos do equílibrio, não deixando que eles se revelem. É preciso ter diálogo com o outro. Geralmente já temos a solução, e ela só precisa ser compartilhada.

Para terminar. O início de um ato (o primeiro passo, a vontade, a atitude, a ação) e a análise desse algo (a reflexão, a síntese, a pesquisa, a Linguagem do mundo) são as pilastras internas para as grandes realizações, sem as quais nenhum processo pode ser alicerçado. Eles são essenciais para os entendimentos de nossas insatisfações, do sucesso sem prazer, do amor sem paz. Se eles não forem compreendidos, temos a a sensação de vazio e um sentimento de que somos fraudes, pois poderemos enganar o mundo, mas não a nós mesmos. Seremos embusteiros (por agirmos impulsivamente, na hora de darmos o primeiro passo), e muito acomodados (muito passivos e introspectivos) num mundo que não conseguimos compreender, nos isolando dele e dos nossos semelhantes, sem muita possilibilidade de evolução.

Já que a verdadera evolução vem de dentro para fora e não o oposto, como geralmente, as pessoas nos fazem acreditar.

sábado, 5 de junho de 2010

Oliver.

—Você está louco? Pirou de vez?
Ele me olhou de forma incrédula. A sua voz, que antes era preocupante, agora estalava em meus ouvidos em um ritmo frenético de se suportar.
Eu me levantei, temendo que minhas pernas não agüentassem tal ação. Elas me provocaram tremendo, e antes que eu pudesse me segurar, eu o percebi se mover antes da falha. Oliver apoiou os meus braços em seu pescoço, evitando a minha queda.
—Você não consegue nem levantar direito... — ele falou mais baixo, por estar próximo aos meus ouvidos.
Realmente, eu não sabia o que mais doía. Talvez fossem as minhas costas que estavam deslocadas. Ou quem sabe, os profundos cortes que ardiam sobre a minha blusa social, que agora, rumava da cor branca para a incandescente vermelho-fogo. Meus pensamentos já me lotavam de interrogações. E eu não podia deixar que eles entrassem em vigor. Se eu começasse a refletir sobre a situação do momento, provavelmente, eu acabaria mais confuso do que quando acordei no hospital após a briga de Albano. Se eu protestasse então, não precisaria nem ser um vidente para saber que meu fim seria cumprido em alguma clínica de reabilitação.
—O que houve com você? Quem fez isso a você?
Como eu poderia explicar isso a Oliver? O mais bizarro, é que até as emoções que afloravam sobre mim, eram incompreensíveis. A mistura do irreal curioso, com o medo penetrante, formava uma espécie de equação do segundo grau. Aquela que você sabe resolver, mas que é muito difícil de desenvolver. Como se as raízes estivessem muito próximas de serem achadas. Finalmente, eu estava perto de encontrar as respostas que me vinham desconhecidas, durante anos. Mas o que deveria ser tratado como algo essencial, nesse momento, regia apenas em segundo plano. O que mais me preocupava era que Taylor poderia estar em perigo. Assim que eu presenciei a sua imagem em alguma saudade momentânea, senti meu corpo revigorar. Em um movimento brusco, eu empurrei Oliver de lado, me levantando sem a sua ajuda. Vesti a calça preta do treino, rapidamente — com certeza ela me daria mais conforto para correr — calçando meu tênis e ignorando os gritos de meus neurônios.
Antes que eu pudesse pensar em alguma probabilidade, qualquer uma que fosse, de ultrapassar a porta da sala, Oliver apareceu com o peito estufado em minha direção.
—Até parece que eu vou deixar você passar.
—Oliver... — mas minha voz falhou.
—Você pirou, Bruno? Dá para pelo menos me explicar o que aconteceu?
—Não posso.
—Não pode... Por quê?
Sua voz em pânico lutava como as garras de um leão selvagem. Ele queria arrancar minhas respostas de qualquer jeito.
—Me entenda, por favor. Você está me fazendo perder tempo.
Ele socou a parede.
Eu me assustei com o seu rápido movimento. E estava tão fraco, que nem consegui prever a sua ação. Só existia um momento em que Oliver se encontrava perto de perder toda a sua personalidade racional. Quando ele percebia que eu estava machucado.
—Não importa o que você me diga, não vou deixar você passar.
—Se você realmente gosta de mim, deveria respeitar minhas decisões.
Ele fez uma careta, olhando firmemente para mim, erguendo uma de suas sobrancelhas, e enfim, recusando-se a ceder. Eu estava jogando sujo. Mas de alguma forma, eu precisava atingir o seu ponto fraco. Nem que eu desse uma leve trapaceada. Eu o conhecia suficientemente, para saber que ele não iria me deixar passar, não enquanto eu não mostrasse que de alguma forma, eu acabaria bem. Fiquei até orgulhoso de mim mesmo, por conseguir argumentar mesmo no estado físico em que eu me encontrava. Mesmo assim, meus argumentos eram todos falhos.
Os segundos se passavam e o nervosismo que cada vez mais acelerava meu coração, me fazia suar frio. Só de pensar que eu ainda estava naquele quarto. Só de pensar que Taylor estava em perigo. Naquele momento, eu percebi que nada mais me importava. Que nenhuma conseqüência poderia ser pensada. Tudo o que eu queria fazer, era ir atrás dele. Procurando uma mínima brecha, em algum segundo de distração, eu olhava fixamente para Oliver. Assim que ele virou o rosto, cansado de me encarar, eu tomei uma decisão. Sem pensar duas vezes, eu avancei espalmando o seu peito, tentando empurrá-lo. Não adiantou porcaria nenhuma. Ele permaneceu parado, e eu que fui deslocado. Só que para trás. E que ótimo... Agora eu me encontrava mais distante da saída, do que anteriormente.
—Me deixa passar, Oliver, por favor!
Meus olhos encheram-se de lágrimas, sem eu ao menos perceber. Ele fez que não com a cabeça. O tempo era muito curto para eu medir meus atos impulsivos. Eu soquei o seu tórax, depois o seu braço, e repeti inúmeras vezes, aumentando a velocidade. Logo, a fraqueza perpetuou minha mente, mas eu não me deixaria desistir. Nem que eu desmaiasse ali mesmo tentando, eu precisava chegar até lá. Depois de perceber, inconscientemente que eu tinha dado um forte tapa em seu rosto, eu o abracei pelo pescoço.
—Droga, me desculpa!
Eu tentei me controlar, da mesma forma em que procurei confortá-lo, fazendo um leve carinho entre os seus cabelos. Mas eu estava em desespero, chorando litros de água em cima do seu ombro. Eu não podia parar de suplicar.
—Oliver, eu preciso ir até ele. Eu preciso avisá-lo da situação. Tem alguma coisa errada e você sabe disso. Ele está sozinho naquela droga de colégio. Acha que não foi armado?
—Lógico que foi. Com certeza, a pessoa que fez isso com você, irá atrás dele. Mas isso não interessa. Você vai colocar sua vida em risco, por causa daquele cara? — Eu já ia virar meu rosto, quando ele afagou minhas bochechas com as suas duas mãos, duras feito pedra. — Olha! Você pode me escutar? Eu não sei o que aconteceu. Mas alguém tentou te matar. E ele provavelmente está envolvido nisso também.
—Ah não me diga! É isso que eu estou tentando te avisar. A pessoa que me fez isso; — eu apontei para os cortes localizados em meus braços — Também conhece Taylor.
Era inevitável revelar partes da situação para ele. Aos poucos, ele iria encaixando as peças. A situação já estava crítica. Todo esse papo de morte para cá, morte para lá, fazia meu estômago se retorcer.
—Isso não importa. O que eu estou tentando te avisar é outra coisa. Algo mais importante. Você não sabe o que está acontecendo. Se você for até lá, a pessoa pode tentar te matar novamente. Você pode até morrer por perda de sangue.
—Não exagera! Será que você não enxerga que isso não importa mais. Existe uma única chance de saber o que está havendo. E essa chance é agora.
—Quem fez isso a você?
Ele tonificou cada sílaba da sua frase anterior, vagarosamente.
—Oliver, por favor. Só você pode me ajudar. Me leve até ele. Até o colégio, só isso.
—Desculpa, mas eu não posso.
—Então, eu vou sem você, já disse. E não me impeça. — eu ameacei apontando o dedo para o seu rosto, achando que isso realmente fosse adiantar. Ele simplesmente fechou a sua expressão, mordendo os lábios, com muita raiva. Passei do seu lado e durante alguns segundos, eu pensei concluir que tinha vencido. Mas antes de rodar a maçaneta, ele me pegou fortemente pelo braço, me fazendo ficar a apenas um centímetro do seu rosto. Eu engoli seco, meio tonto por ter perdido o último fôlego que me restava.
—Eu não quero te perder.
Eu arfei, virando o rosto de lado.
—É sério.
Ele encostou levamente o seu nariz no meu, fazendo um carinho bom de se sentir. Eu respirei fundo para poder suportar aquilo. E respondendo em um tom de voz mais paciente, eu me defendi.
—Você não precisa. Você precisa me ouvir, precisa me ajudar. Também não quero ir, sem você...
—Não entendo como pode tentar ir atrás dele, do jeito que você está. Você está brincando com a morte.
Eu também não entendia. Porém, uma suave resposta formou-se no vácuo de minha mente.
—O amor... Ele é ilógico e irracional.
Para complicar ainda mais o meu nervosismo, fez-se um rápido silêncio no cômodo. Mas nós dois continuávamos grudados, prendidos pela tensão.
—É, eu estou percebendo. — Ele sorriu, rachando a discussão em vários pedaços.
—Está?
—Nem acredito que eu vou te levar até ele.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ventos uivantes.


Quando se pensa na vida, se pensa em complexos. Para quem leva a vida de uma forma mais superficial, fica mais fácil de ter um superávit de momentos felizes. A aparência por fora, checada pela casca em essência, traz na pele algo leviano, tão pouco sentido. Para quem aprofunda, e estuda com vontade insana, prova da alma, de que cada defeito. Digo das pessoas, como um todo. Pois, de mais a menos, são elas que controlam grande parte da vida. Na reflexão nunca há superação de tristeza, pois a vida sendo difícil, atordoa os sonhos de qualquer sucesso. Mas como grandes lutadores, temos em mente o poder de perseverar, sempre passando através de todos os empecilhos, lutando para captar algum oxigênio no ar. Ninguém vive em uma bolha. Quem não compartilha problemas, desconta. Se estressa, entra em depressão. A vida sempre vai ser mais forte do que todos nós, porque o número de pessoas erradas ultrapassa os bondosos, esperançosos. Mas isso não indica que sempre teremos que perder para ela. Em contra partida, o que é da sua preferência? Esvaziar-se, nem que seja com uma dança louca, ou se trancar em pleno quarto escuro, sem saída? A música da vida tem vários ritmos. Nos tons tristes, não podemos fugir, temos que encará-los. Nos tons felizes, temos medo de que tudo apenas resulte em lembrança. O que no fim, sempre se torna. Não há molde do respeito, não há limite traçado. Se você respeita demais, você falta com a pessoa. Se você pouco respeita, você invade o espaço dela. Não há uma perfeita satisfação. Isso que nos torna humanos. E lutar contra isso é burrice. Não ouvir a pessoa, persistindo no erro é mais ainda. Você pode errar, mas isso não te dá o direito de se justificar, ignorando o pedido. Pimenta no cu dos outros é refresco. Quando admiramos sem querer a vida de outra pessoa, não significa que isso seja invasão a domicílio. Talvez seja uma observação. Uma preocupação amorosa. Um conhecimento inevitável. Uma escapatória do que te corroe até te matar. Não existe um fechamento corporal total. Quem se tranca totalmente, se perde, enlouquece, se distancia, não vive. As vezes você só precisa de um ouvido, de uma libertação. De uma purificação. Gritar um problema é necessário. O que não é necessário é alimentá-lo, cultivá-lo. Um problema apenas de torna um problema, depois de revolvê-lo. O problema está em achar que tudo na vida é problema.

Muito se tem a deixar-se rolar.

Entre os ventos da vida, o ideal de todos, é sentir-se livre de qualquer mal. Não se permita sufocar com passados remotos. Com erros nostálgicos. Como uma brisa que passa, devemos aproveitá-la, até o ultimo momento. Cultivar aquilo que te faz delirar apaixonadamente, vivendo jamais em dor. Mas dentre todos eles, não há prazer melhor, do que resistir a cada ventania. (Ventania porque a vida lembra um objetivo árduo). Ventania que pro bem, ou pro mal, é da sorte. Simplesmente por ter o dom de te fazer crescer.

Esteja livra para se esvaziar. Em outras palavras: viver. O amor é compreensivo, e é com ele que as pessoas vivem em divino conhecimento.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Novidade.

Para qualquer problema há uma (qualquer) saída.
Tudo acontece por um motivo.
Não importa o quanto for díficil, vai passar.
Porque na vida tudo passa.
Porque o tempo cura tudo.
E em cada nuvem carregada, há um raio de sol.
O amor conquista tudo.
Se você pensar positivo, irá atrair coisas positivas.
O sucesso da vida está em conseguir vencer cada obstáculo, sem perder o entusiasmo.
A fé move montanhas.
O importante da vida não é vencer. É aprender com cada experiência.
Se você perdeu, levanta-se e tente de novo.
Enquanto houver vida, há esperança.

É... Alguma merda, eles têm que te dizer. Como se isso realmente mudasse alguma coisa.

sábado, 22 de maio de 2010

Soneto da Julinha.

Te amo na calma corrida do tempo
Em tom rápido; também lento: imperceptível
Com mais força, a cada momento
De final impossível.

Amo com delírio, na raiz da essência
Cada todo, como uma personalidade;
Amo até mesmo naquela aflita ausência
Aguentando até mesmo a amarga saudade.

Junto a mim, não caberia amá-la
A não ser por inteiro, por completo
Do seu lindo cheiro à sua violenta fala

Do bom humor, ao humano defeito
A vida não teria sentido, por exceto;
Se eu não te amasse desse jeito.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Eu te amo.

—Eu te amo.
—Por que você me ama?
—Deve ser porque você é meu.
—...
—Porque você precisa de amor. Eu te amo porque quando você me olha, eu me sinto um héroi. Sempre foi assim.
—Hm... Hahaha.
—Te amo porque a cada noite que passa eu me sinto mais homem do que qualquer outro.
—Eu também te amo.
—Por que você também me ama?
—Eu te amo porque... Porque a cada noite eu te faço sentir mais homem do que qualquer outro. Hahaha.
—Hahahaha.
—Eu te amo porque; Nunca poderão nos acusar de amor. Eu te amo porque, para entender o nosso amor, a gente teria que virar o mundo de cabeça para baixo.
—...
—Eu te amo porque você poderia amar qualquer outra pessoa, mas mesmo assim, você me ama.

Do começo ao fim.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Um.

Em uma mínima distração possível, eu notei toda a minha dor desaparecer, em uma velocidade maior do que a da luz. Uma combustão de sentimentos corroía, com ferocidade, a ansiedade que antes me sufocava, fazendo-a reagir com a súbita curiosidade que surgia. Foi como uma forte explosão, capaz de gerar alto calor concentrado. Ele aqueceu os relevos de meu rosto e eu pude sentir minhas bochechas queimarem. Banhados com um grande suspense, meus olhos fixaram na batida da porta instantaneamente. A ultima coisa que eu podia acreditar era que ele pudesse estar por detrás da mesma. Mas minha racionalidade nunca ultrapassou o amor que eu sentia por Taylor. Em apenas um segundo, — embora eu soubesse que era impossível — desejei com todas as minhas forças que fosse ele. Minhas pernas disparam, em direção a maçaneta. Não consegui esconder meu nervosismo. A única coisa que parecia fazer sentindo era o resíduo de esperança que eu mantive guardado em alguma insanidade de minha mente. Foi quando eu a abri.
De todos os dias em que o vi, neste ele estava mais perfeito, apesar de ter um pouco de suor na testa. A mágica do momento contribuiu perfeitamente para isso. Ele não teve paciência para esperar o elevador. Sempre fora impulsivo demais.
Não sei quanto tempo eu demorei para recuperar a consciência. Acredito que nesse período, eu tenha prendido a respiração, pois eu a soltei bruscamente, apenas pelo susto que levei, por causa da rapidez do seu abraço. Foi o período mais duvidoso de minha vida. Pela primeira vez, eu estava bem no meio da linha que dividia o sonho da realidade. Em qual dos dois espaços eu me encontrava? Seus braços envolveram as minhas costas de uma forma tão inevitável, quanto a lágrima que foi arrancada do meu olhar.
Com o nariz colado à sua nuca, eu enlouqueci de saudade. Como eu sentia falta daquilo. Como eu sofri sem a sua presença, sem todo o seu contexto. Nada mais fazia sentido para mim. Somente aquilo exista no momento. E me bastava. Nós ficamos abraçados em silêncio, pois tínhamos medo de que aquilo fosse tomado de nós. Mais uma vez, eu fui pego de surpresa, sendo soerguido por seus firmes músculos, que jogaram minhas costas na parede. Eu não podia sentir dor. Tudo o que eu senti, foi o seu suor se apossando inteiramente do meu pescoço, acompanhado pelo o gosto dele. Ele subiu do queixo a boca, me beijando com alto desespero, e pressionando os seus lábios contra os meus, de uma forma bem aflita e profunda. Com as minhas pernas entrelaçadas em sua cintura, eu levei minhas mãos — que antes afagavam o seu rosto — até a parte de trás da sua cabeça, buscando uma gentil sustentação.Entre sussuros escondidos que cada vez mais altos se revelavam, ele tomou coragem para interromper a minha sinestesia.
—Desculpa, eu não consegui. Eu tive que vir.
Ele estava tão ofegante que foi impossível não sentir a sua respiração. Quase se desiquilibrando, ele apoiou as suas duas mãos na parede atrás de mim. Ela que estava suportando a maior parte do meu peso. Meu rosto ficou no meio, colado com a sua testa. Roubando o ar que saía dele, eu juntei forças para falar.
—Não quero que você faça nada forçado.
Ele riu antes de continuar.
—Não posso deixar meu coração para trás. Se eu fosse embora como eu tinha dito, jamais me perdoaria.
—Mas essa não é a sua natureza.
—Eu mudo por você.
Ele estava tentando me matar.
—É que parece um pouco egoísta da minha parte.
—Não parece. Eu quero você...
—Eu já sou seu. — eu murmurei rapidamente atropelando cada palavra pronunciada.
—Somos um do outro.
Derrotado, tentei minha última desculpa.
—O que vão pensar?
—Não importa mais. Se eu continuar do seu lado será fácil aguentar qualquer problema.
—Ah. — arfei.
Foi tudo o que saiu. A felicidade causada pelo o seu discurso, me fazia delirar.
—Enquanto eu estiver com você, estarei realizando meu maior sonho.
Senti meu corpo se descolar da parede, sendo levado ao ar mais uma vez. Ele me carregou calmamente até a parte de dentro do meu quarto, evitando o barulho que o eco do corredor fazia sobre todas os cômodos. Já era madrugada — e embora estivessem todos dormindo — ele queria curtir nosso momento mais a sós. Ele empurrou a porta com a perna, ainda me carregando em seus braços. Eu não queria acordar.
—Não me faça acordar disso. É perfeito demais para se acreditar.
—Você não precisa acordar Bruno... Isso já é real.
É... Eu estava na mais perfeita realidade. Me derreti por finalmente saber que eu poderia amá-lo por completo, sem nenhum obstáculo.
—Taylor...
Minha voz falhou, resultando em meu sussurro mais baixo. Sua expressão tranquila dedurava sem piedade a certeza da sua escolha. Já não precisámos de qualquer diálogo. Ele me carregou com cuidado da sala, até ao quarto, bem na cama, me repousando por debaixo do seu corpo.
Ainda freneticamente concentrado em suas ações, senti seu peito — agora nu — se deitando do meu lado. Ele jogou uma das minhas pernas por cima dele, me acolhendo em seu colo. Nós ainda tinhámos dificuldade para respirar. Mas nesse momento, nós já compartilhavámos o mesmo ar, o mesmo fôlego. O mesmo tudo.
É que nós éramos um só.

domingo, 9 de maio de 2010

Início.

A perspectiva curiosa do começo é contrária.
É ansiedade pela descoberta.
Um curto pulo à curtição.
Medo pela não realização.
Um voar com asas que logo se quebram.
Não há sossego.
Enquanto aquilo não for conquistado.
Só há desdém quando aquilo é muito valorizado.
O descanso não existe.
Enquanto a confiança não for moldada.
Pelo material mais indestrutível.
Há tempo.
Paciência.
Perfeição? Não...
Pelo menos não;
Enquanto aquilo não for eterno.
Mas a grande questão é...
Até que ponto, pode ser?
...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Escolha.



Entre o vão de duas frestas: uma escolha.
Por que há de caber a mim, tal opção
tão insistente e arrebatora;
capaz de traçar dois caminhos para seguir.
Por isso duvido: o destino realmente haverá de existir?
Se tu me concedes uma balança;
aquela cheia de prós e contras.
E se me dá o poder de rumar em pérpetua cobrança;
não podes negar.
o único que escreve meu futuro, sou eu.
puro dono, tão insano, com medo humano de errar.
Já que o estopim, pertence a mim, só me resta aceitar:
são dois amores, tão opostos.
Mas que rancor, que injustiça!
Os dois são dotados de perfeitas características,
e apenas me dão um tribunal para julgar.
Como posso prosseguir sem errar?
Quem sabe a direita, eu me encontre satisfeito;
com flores róseas de algodão;
cheios de poemas tonificados de emoção.
Mas e se esta for a falha?
da dor que pedreja o meu coração?
Talvez a esquerda me baste, sensata.
um tão magnata, de puro prazer.
Das duas qual seria a mais perfeita?
Não quero me arrepender.
Entre perdidos e encontros, me atiro, emergente.
tão livre, esvoaçado, pressionado, contente.
responsável pelo fardo que jamais desejei;
Não quero decidir;
entre a invevitável amizade e o viciante amor.
Não me permito ceder.
Por isso, não digito, não calculo, nem ao menos penso;
Prefiro morrer.

Disfarce.



Solidão, sai daqui. Tira o corpo, não complica, ja é hora de partir. Já é madrugada, e com você aqui — super vidrada — dificilmente conseguirei dormir. Já são quatro da manhã! O que você deseja, a não ser tomar o lugar da minha mente puramente sã? Ah, mas na sua laia eu não caio, não! Sei que não passas de uma miragem, daquelas sustentadas por uma mera ilusão. Aqueles que me amam não me soltam, jamais largariam a minha mão. Ai, ai, solidão. Mas que contradição literal você é. Se teu destino é ficar sozinha, não me procura, não me acha, larga do meu pé. O seu conceito mais importante, todos ignoram sem saber. Para as pessoas, solidão é ficar sozinho, no vazio até morrer. Poxa solidão... Sei que é apenas uma prolongação de uma insegurança. O físico costumar fugir do essencial. Mas no fundo eu sei que solidão é esperança de que a mudança retorne ao normal. O que é próximo tem suas vantagens, fortalece, mas sempre enjoa. Então, por que não topar um tempo, algumas viagens, ou uma saudade tão boa? Solidão, já deu, já cansei. Vou revelar sua verdadeira identidade. Já não quero regir em mim, a sua própria vontade. Não irei mais te alimentar. Pois, sempre soube, que solidão não é se afastar, é sentir falta, quando não há ninguém, no mundo, a quem amar.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Lucy.

Fechei a janela lateralmente. Puxei suas extremidades de fora para dentro em um brusco ato que terminou com um estalo. O som produzido foi bem alto, capaz o suficiente, para incomodar meus próprios ouvidos.

Sentei na cama, meio atordoado de pensamentos, tentando controlar a raiva que aos poucos consumia minha racionalidade. Ela tentava escapar se apossando do meu corpo, embora eu não permitisse o sucesso do seu objetivo. Ao longo da minha maturidade, eu finalmente havia me tornado um inimigo capaz de combatê-la.

Aos poucos fui esvaziando cada pensamento ruim, um por um, tentando amenizar o que lutava — agora descontroladamente — contra a minha calma, codinome: consciência. Porém, eu sabia que por mais que eu tentasse esquecer aquele importúnio, jamais consegueria eliminá-lo de uma forma completa, pelo menos não ali, naquele exato momento.

Olhei através da transparência da janela, tentando buscar respostas que talvez estivessem em algum lugar, qualquer um que fosse. Nas estrelas brilhantes, no vento que eu não podia sentir, na Lua que fazia a sua melhor cena espetacular. Mas é claro que não obtive resultado. Até que de repente.

—Julinha. — suspirei.

Meu suspiro foi como um vômito incontrolável. As palavras invadiram minha boca sem eu ao menos perceber, com grande tonificação. Eu estava tentando manter os dentes cerrados, mas mesmo assim, por alguma fresta, qualquer uma que eu tenha sem querer deixado se abrir, elas me escaparam.

A minha história com a Julia é tão longa que se eu começasse a contá-la com todos os detalhes, eu viveria a maior parte da minha vida, sentado na frente desse computador, redigindo capítulo por capítulo. Mas pensando de uma forma equilibrada, até que não me parece uma má idéia, já que, toda vez que eu me lembro dela, me invado com tudo o que é composto de felicidade.

Em um inexorável jato de gostos parecidos, uma bela amizade foi valorizada. E tudo começou com uma grande explosão, tudo rápido demais. Em pouco tempo de convivência, nós dois já sabíamos que era impossível vivermos um sem a presença do outro. Com o crescimento, esse pensamento de posse desfaleceu-se, dando origem a uma nova convivência, mais saudável e resistente, porém mais distante.

Por um tempo eu realmente pensei, que fóssemos ser para sempre "Rafael e Julinha", porque por mais que as pessoas cruzassem nossas vidas, nós dois sempre estávamos lá, trocando nossos olhares, como respostas de uma grande combinação confirmativa.

Mas esse núcleo foi-se perdido. Depois de um tempo, a gente percebe que não é a dupla que emerge como centro de um todo. E sim cada integrante nela contido. O reflexo da depêndencia têm como produto um caminho percorrido em velocidades médias proporcionais. Nesse tempo, nós andamos juntos. O individualismo costuma chegar como um soco no estômago — bem repentino — desprovido de qualquer reação. O comum seria simplesmente agonizar com a falta de ar, esperando até que ele preencha novamente a superfície de contato dos alvéolos pulmonares.

Assim que o sofrimento se esvai, ganha-se uma boa anestesia. Duvido que você vá cair ao chão tão facilmente, com qualquer outro soco recebido. É a formúla mágica do amor próprio entrando para ser resolvida na primeira equação retílinea. É como praticar Matemática, só se pega o jeito depois que se lota a caixinha de experiências.

Os contras surgem como grandes demotivadores. Quem é radical costuma chegar ao máximo. Tanto eu na paixão, quanto ela na ausência. E agora, por mais que andemos juntos, temos mundos separados. Só que por um destino contraditório — ou não — é exatamente por isso, que cada vez mais nos fortalecemos.

Durante um tempo, não andamos na mesma direção, e até acabamos soltando nossas mãos. As borboletas agora estão livres para saírem de meu jardim e retornarem assim que sentirem vontade. Essa negligência, por um bom tempo, foi uma escolha feita pelos dois. Até nas escolhas somos parecidos.

Esclarecendo melhor, eu nunca em nenhum momento esqueci da Julia. Até porque é simplesmente impossível não me lembrar dela em qualquer parte do dia.
Mas sempre tive uma confiança tão grande nesse ser pequeno (só de tamanho, e eu tô falando da altura, não dos peitos) que eu sabia que tinha uma parte dela comigo, assim como havia uma parte de mim, nela. Eu não precisava me preocupar, ela iria voltar.

Ansiedade é medo guardado, muitas vezes trancado. O tempo de ausência traz uma mudança desconhecida por aqueles que não podem acompanhar. A prioridade havia sumido, exatamente como as faces engraçadas, as piadas, tristezas e diversões. (Sim, a cada dia eu sentia mais saudade de todas elas, 'sem exceções' — a própria essência da Julia). Se ela sempre voltava, o que a fazia ficar tão longe? Teria ela mudado tanto que estaria simplesmente em outra?

Amizades por mais fortes que sejam, uma hora se distanciam por dívidas da vida. Quanto mais forte a corrente for, mas dificil há qualquer rompimento. Mas como qualquer planta que precisa ser regada todos os dias, acho que o nosso jardim passou por um período prolongado de seca. E nada se sustenta sozinho. A culpa foi totalmente nossa. Mas não me arrependo disso. Não me arrependo de nada que eu passei ao seu lado. Quando a vida oferece um sonho além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar, quando isso se chega ao fim.

Eu sofri. Sofri por ter que decidir. A ausência da Julia provocava uma dor extrema no meio do meu peito. As vezes parecia que as minhas costelas iam ser deslocadas em posições opostas a fim de esmagar meu coração (que nesse período gritava de forma ensurdecedora). E de uma coisa eu tinha certeza, eu quero que a Julia seja feliz. Ela merece. Depois de tudo o que passou, a coisa mais bonita que ela pode passar é ser feliz para sempre. Exatamente igual aquelas histórias de vampiros e lobisomens o qual o amor prevalece na frente de tudo. Se não do meu lado, no de outra pessoa. E forçá-la a mudar -por mim- estava fora de cogitação.

Eu desisti do seu sorriso contagiante (as vezes de madrugada eu fico rindo alto das nossas brincadeiras) porque não podia enfrentar a ferida que regia minhas lembranças e sentimentos. Minha paixão por ela, acompanha meu amor de uma forma polida, composto de um material que não pode ser desgastado. Mas foi por um bem maior: o brilho que ficou eternizado em meu espírito, só por saber que em algum cantinho do mundo ela estaria lá dando as suas risadas inesquecíveis.

(Chora) Depois de um período intenso de solidão, ela finalmente entrou no meu quarto. E não era um sonho. Para o meu bem maior, ela simplesmente fincou do meu lado. Simplesmente depois que conversamos (retrospectiva de três anos seguidos de casamento) e nos abraçamos, eu senti seus braços em volta da minha nuca. Como se eles me prendessem ali, naquele aperto incontrolável que me fazia perder o fôlego. Como se ela não quisesse se afastar de mim nunca mais. E não vai.

"Parece fácil, mas é difícil, um belo você vai ter que aprender. Burro!" O belo dia, tinha chegado para gente. Foi mais mágico do que o comum, mais impercetível que qualquer inspiração ou piscar de olhos. Só que dessa vez não havia barreiras, nem máscaras a serem tiradas e sim a mais pura realidade, o nosso verdadeiro amor. O amor entre duas pessoas, mas que vinha simplesmente de dentro de cada uma delas.

Sendo assim, entrelaçamos nossas almas gêmeas até um tempo determinado.

E que seja infinito, enquanto durar.

Do seu Rafael. Eu te amo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Amor.

—Você não se importa?
Eu hesitei durante alguns segundos, ainda pasmo com o seu pedido. Fiquei em silêncio, em um mínimo de tempo suficiente para que ele não percebesse que eu estava pensando seriamente sobre o assunto. Qual seria o motivo que o fez mudar a sua forma de pensar tão repentinamente? Seja lá qual fosse, não adiantaria nada que eu continuasse a me questionar. Se ele conseguiu dar dois passos à frente, com certeza, seria mais fácil para eu acompanhá-lo.
—Não. — respondi, não tendo total certeza da minha decisão.
Quando ele me puxou pela cintura em uma movimentação perfeitamente calculada, eu já sabia que não teria como eu voltar atrás. Ele afagou uma de minhas mãos, levando-a até o seu pescoço, com grande cuidado. Com aquele olhar semicerrado vidrado em mim, junto com a sua expressão focalizada ambiguamente em carinho e apreensão, ele urrou sua vitória. Ele tinha conseguido me convencer. Agora, nem se eu quisesse, eu o largaria. Tentando não tremer, tentei prestar atenção nos passos e por sorte não tive dificuldade, já que ele estava facilitando as coisas para mim ao me guiar lentamente. Em primeiro lugar, ele apoiou seu tato em minhas costas, e com um giro sobre o ritmo lento da música, logo desceu para a cintura. Ele firmou sua postura bem ali, com a outra mão estendida, apertando a minha direita, decidido no que pretendia fazer. Como eu previa, aos poucos, as pessoas começaram a notar nossa presença, comentando entre si em vozes baixas. Assim que ele me percebeu expirar de insatisfação, tentou me confortar.
—Se concentre na música. Deve ajudar.
—É meio difícil me concentrar com qualquer outra coisa quando estou tão perto de você.
Ele sorriu espontaneamente, clareando toda a minha confusão com seus dentes mais brancos do que o normal.
—A culpa é sua. Seus olhos é que fixam a minha atenção.
Algumas pessoas se sentaram. Estávamos quase a sós na pista, e isso aumentava a minha tensão, pois parecia que mais gente estava olhando. No fundo, eu não queria perturbar ninguém. Odiava esse tipo de situação. E mais uma vez, ele pareceu ter lido minha mente.
—Esquece isso. Vamos falar sobre alguma coisa. — propôs pensativo em um tom de voz sereno bem baixo. —Que tal sobre a gente... Sobre o amor?
Meu coração gritou de emoção, batendo em tonificações rápidas. Pelo menos, a sua idéia tinha funcionado. Eu não pararia de dançar por nada desse mundo.
—O que o senhor tem para falar do amor?
—Ah... É que o amor é tão utópico. Tão difícil de encontrar. A gente conhece alguém. E surgem tantos empecilhos. Primeiro, a gente tem medo de se apaixonar. A gente nunca sabe quando a pessoa vai sumir. Mesmo com confiança, tudo pode mudar. Ou então a gente se apaixona e se decepciona depois ao conhecer a pessoa mais a fundo.
—Até mesmo o amor tem seus medos e dores. — respondi, mordendo meu lábio inferior ao perceber seu olhar se aprofundando sobre os detalhes de meu rosto.
—A gente nunca pode se entregar por completo. Quando a gente gosta, não podemos dar muita corda, senão a pessoa acaba perdendo o interesse. Quando fazemos o contrário daquilo que queremos, ou seja, quando ficamos longe, a pessoa dá mais valor.
Ele apertou forte a minha mão, queimando minha palma, no transporte do seu calor ao meu, que se espalhava com voracidade.
—O medo e a confusão são inimigos que surgem bem no início da relação. É normal que as pessoas fiquem com pé atrás.
—Mas mesmo no meio, ou no final. É chato ter que pensar que as coisas têm um fim.
—A vida tem um fim. — minha voz ríspida deu uma rasteira em seu diálogo. Ele fechou a expressão, tentando não encarar a verdade. Eu tentei continuar o discurso, chegando com a boca próxima ao seu ouvido, entregando meus sussurros.
—Mas que seja infinito enquanto dure.
Ele estremeceu. Quando eu voltei a fitá-lo, ele ainda estava atordoado.
—Eu não gosto de pensar nessas coisas. Em morte, ou coisa do gênero. Pensar nisso tira a confiança das pessoas.
Eu o interrompi, imerso de dúvidas que gritavam em minha cabeça.
—Você age assim?
—Como?
—Você geralmente não se entrega?
—É... Eu não sou de confiar nas pessoas.
Agora foi a vez dele de me dar uma patada. O ritmo da música agitou, e eu pude aproveitar a chance de me esvaziar com a sua frase dita anteriormente. Mas o tapa ainda ardia em meu nariz.
Eu soltei na dança o que estava preso em mim. Aproveitei a firmeza da sustentação da sua pegada para passar uma perna para o lado oposto da onde eu me movia, sucessivas vezes, sentindo meus pés deslizarem ao chão. Eu soltei sua mão bruscamente, empurrando seu tórax para longe de mim, e correndo em seguida, tentando reconquistá-lo. Só que dessa vez, eu subi com a mão pela sua nuca, ficando a menos de um palmo de distância dele. Puxei seu cabelo com dificuldade — de tão curto que era— tentando lançar um charme, mas ao mesmo tempo, tentando descontar em raiva, a dor que ele havia causado em mim. Mas me arrependi tremendamente, fazendo algumas cócegas para amenizar o dano causado.
—Com você é diferente.
Eu quase tropecei. Não consegui tirar forças para responde-lo. Antes de prosseguir, ele soltou a respiração, me fazendo desfrutar do ar caloroso que irradiou minha pele.
—Eu sinto que por mais que eu me entregasse, você jamais me recusaria. Como se eu pudesse sempre exagerar... É que o meu amor por você é tão intenso, que tende a escapar da razão.
Soltei o ar bruscamente para não desmaiar, me assustando por conseguir me defender.
—Não mais do que eu. Não sei até onde posso ir por você. Se você deixar, vou até as estrelas.
—Acho que só pelo fato de você estar dançando comigo diz muita coisa.
A gente riu por um momento mágico.
—Eu te amo. Embora, meu amor por você já ultrapasse qualquer amor já existente. Não sei como expressar o que eu sinto com palavras, por isso preciso acreditar nessas três. Vou confiar com que elas transmitam o que eu sinto por você.
Ele sorriu, engolindo meu murmúrio.
—Eu amo você. — completou, com a sua pele bronzeada corando.
A pista de dança por algum milagre tinha se enchido de novo. Não sei quantas músicas se passaram, embora eu desconfie que fossem muitas, pois meu tempo ao lado de Taylor sempre passava rápido. Talvez as pessoas tivessem se conformado de que a gente não iria sair dali tão cedo, cedendo chance a diversão.
Ele ergueu uma das suas sobrancelhas, com um ponto de interrogação em sua cabeça. Logo depois, abriu a boca, sem deixar sair algum som. Ele a fechou, ainda confuso. Abriu novamente, mas voltou atrás mais uma vez.
—Diga. — eu o incentivei. Após uma longa inspiração, ele soltou.
—Posso te beijar?
Eu entendia perfeitamente o seu drama. Mas eu não estava em condições de dizer um “não”. Eu não o respondi. Era muito óbvia a minha resposta. Uma mão desistiu de minha cintura, acariciando meu rosto ao brincar de lá para cá. Ele queria fazer tudo bem devagar. Com um suspense que subia por toda a minha coluna vertebral, se transformando abruptamente em uma vontade insana de agarrá-lo, eu tentava manter a minha consciência. Tentei prender a minha vontade de avançar, mas ele persistia em me atrair, exatamente como um imã que atrai uma pequena limalha de aço. Ele tocou meus lábios lentamente, só para sentir o sabor. Com um remorso imenso, ele subiu até minha orelha, só para morder-la a fim de aperfeiçoar sua implacável provocação. Ele voltou contente até a minha boca, só que dessa vez muito mais rude. O gosto de Taylor se apossava sobre os cantos da minha língua, tornando-se parte de mim. O formato do seu beijo acostumou-se com o modelo do meu, e junto com uma sede insaciável que só crescia dentro de mim, eu retribui. Coloquei minha mão em seu rosto, só para me equilibrar e surtei com o seu hálito celeste contagiante.
Do nada, bem repente, o cenário a minha volta, regido ainda pelo inconsciente — porém perdoável — preconceito, mudava de cor. Antes ele era preto em branco. Mas agora, cada cor explodia, pintando em uma textura misturada uma famosa obra de arte: o nosso mais verdadeiro amor.