sábado, 29 de janeiro de 2011

Inverso.

—Você é maluco.
Eu tirei o braço que me segurava, tomando minha decisão, que com certeza ele julgaria impulsiva. Ele era mais forte do que eu e conseguia me travar com apenas um movimento.
—Me solta. — eu menti. É claro que eu não queria aquilo.
—Não.
Ele olhou firmemente para mim, me fazendo tremer dos pés à cabeça. Eu não ia voltar atrás, mas o desejo dele era tão forte que ultrapassava todos os meus princípios.
A pegada dele queimava a minha pele, fazendo meu coração latejar. Eu sentia como se eu fosse dele e aquilo por algum motivo me excitava. Tentei me desprender das suas garras, mais uma vez, mas minha teimosia, nem ao menos o incomodava.
Ele girou o seu corpo, bem rapidamente, me puxando contra ele. Foi tão rápido que só me lembro de sentir minhas costas batendo contra a parede por detrás de mim.
Eu não conhecia a música que estava tocando, mas o ritmo combinava perfeitamente com o nosso clima.
Com a nossa batida.

What's the worst thing that could happen to you? Take the chance tonight and try something new.

—O que você quer? — fiquei com o rosto virado para a multidão que dançava, vendo as luzes iluminarem o chão, cada uma com um tom diferente.
—Você.
Engoli seco.

Don't worry, 'cause tonight I got you. You can take a seat, do what you normally do.

—Como se isso fosse possível. — respondi, meio desconcentrado por causa da música.
—E por que não?
—Você sabe muito bem. É errado. Anti- ético.
—Podemos quebrar umas regras. Só hoje.
—Vão descobrir. Será que você não percebe onde está? — eu fiz um sinal com a minha cabeça, junto com meus olhos para o ambiente a nossa volta: uma boate lotada de pessoas.
—Só hoje. — ele repetiu, aproximando o sua boca do meu ouvido. O seu cheiro com a sua voz ali lançados, me fazia delirar. Seu timbre saiu como um sussurro, mas foi mais emocionante do que qualquer grito que eu já escutara na vida.
—Mentiroso. Como se eu não soubesse quando você mente.
—Eu sou péssimo nisso, reconheço. Mas isso não muda as coisas.
—Se você ficar comigo, sabe que não será só hoje.

Leave you, move on to a perfect stranger. You talk, I walk, wanna feel the danger. See me with him, it's turning you on. It's got me saying.Ain't getting me back at the end of this song.

A pausa deu ênfase na música. O sorriso confiante nunca saía do rosto dele, que era perfeito até mesmo quando havia pouca nitidez graças a escuridão. Ele sempre sabia o que queria.
—Eu sei de muitas coisas. Mas quem disse que elas fazem sentido nesse momento?
Ele colocou o dedo nos meus lábios, acariciando-os. Eu até agora não conseguia entender minhas forças. Era como se todo o meu corpo se retorcesse perto dele, lutando contra mim para se lançar em seus braços.
—Não podemos.
—Me convença. Me dê um motivo realmente bom.
Aquilo seria inútil. Mas segui seu pedido.
—A sua recuperação.
—Eu já estou curado. Você me cura por estar perto de mim.
Ele não conseguia deixar meu coração desacelerado nem por um segundo? Por que todas as respostas dele tinham que ser tão perfeitas?
—Não sabemos se você está em alta ainda.
Ele revirou os olhos, reprovando o meu argumento. Era mais do que óbvio que ele estava totalmente saudável, pelo menos, ao meu lado.
Eu respirei fundo, buscando qualquer resposta rápida que aparecesse em minha mente.
—O meu trabalho.
—Dinheiro não é problema para você.
Ele raciocinava mais rápido do que eu. Eu ia perder.

Get outta my way. Got no more to say. He's taken your place. Get outta my way. Way outta my way.

—Vão descobrir de você.
—Quem disse que eu me importo?
—Vamos perder o que a gente já tem. Isso pode dar errado. Não podemos arriscar tudo assim.
—Nada é mais forte que a gente. Não há riscos. Só a morte e não a vejo muito próxima daqui nesse momento.
—É sério.
—Nós só vamos ganhar. Não tenha medo. Pensei que você já confiasse em mim.

Ele era a pessoa que eu mais confiava nesse mundo.

Ele se aproximou do meu lábios, juntando a sua respiração à minha. Acho que perdi a noção do lugar por alguns segundos. Era errado desistir do parecia ser o politicamente correto. Mas só por um segundo, eu pude perceber que ele poderia jogar fora a sua racionalidade. Não seria sempre, seria naquele momento, que tinha se tornado muito especial por causa disso. Eu me sentia tão desejado. Aquilo era suficiente para eu nunca mais me separar dele.
—Eu não tenho mais desculpas.
—Finalmente.

Ele pressionou os seus lábios ao meus, esmagando-os e liberando a sua vontade presa há tanto tempo. Dizem que o primeiro beijo com a pessoa que você ama, é inesquecível. Só tenho o que concordar.
Imensurável.

No I ain't goin' home, Uh,uh,uh. But I won't be alone, uh uh uh. Now I've showed you what I'm made of.

Idéia do tema do texto, graças a Letícia. Obrigado.
Música: Kylie Minogue - Get Outta My Way

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carinho.

—Qual é a cor dos meus olhos?
—Depende. — típica resposta daquelas pessoas que fingem ser intelectuais.
—Do que? — a curiosidade permanecia estampada na testa dele.
Eu respirei, revirando os olhos, bem pensativo. Por mais que a resposta parecesse simples, no fundo era mais do que complexa.
—Eles são difíceis de decifrar. Quando você está longe de mim, são pretos. Quando você está próximo, ao analisá-los, descobrimos que na verdade, eles são marrons. Só que num tom bem escuro, mas ainda sim, marrons.
Sorri, analisando os contornos do seu rosto. Não há nada que eu quisesse mudar nele, nem ao menos a sobrancelha, que fugia da perfeição por ser apenas um pouco mais grossa do que o comum. Eram marcas dele e seria um desperdício retirá-las.
—Os seus também não são tão fáceis de ver. São bem puxados, orientais. — o bico que surgiu no meu rosto era inevitável. Ele continuou a falar.
—Mas quando o sol bate, eles se tornam muito claros, parecidos com mel. Quando você ri, eles se fecham por completo, e quando você está triste, eles sempre estão semicerrados. Na noite, eles quasem somem em contraste com a escuridão.
Eu comecei a rir, bem baixinho.
—Não consigo enxergar nada.
—Claro, você está rindo, novamente. Pode ser uma tática para quando eu quiser te encher de carinhos.
—Não precisa esperar eu ficar desatento, para isso. Eu jamais recusaria.
—Você não é nem louco.

Eu não podia discordar dele, ele estava certo.
Como sempre.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O poder do amor.

Meus amores, fica aqui um texto sobre a minha reflexão. Eu espero que seja de suma importância a todos vocês.

Sem os nosso opostos, seríamos seres incompletos.

A clareza do amor pode ser mostrada, sem dúvida, se soubermos incorporar o que consideramos seus opostos: o ódio, a raiva, a paixão. Se não conhecemos a nossa capacidade de nos indignar frente às injustiças, de lutar ás vezes com as armas do ódio, se não reconhecermos em nós a nossa capacidade de odiar, não saberemos amar. Se não incorporarmos ao nosso amor toda a nossa agressividade, amaremos passivamente e nada faremos de útil, nem por nós nem por ninguém. O amor exige iniciativa e não há iniciativa sem agressividade.

Ainda compreendemos o mundo pelos seus opostos. Só entendemos o bem porque conhecemos o mal, a alegria porque sabemos a tristeza, e temos que esgotar as suas possibilidades para que possamos uni-las e trancendê-las. Devemos considerar o ódio e paixão como os sentimentos mais honestos que podemos sentir e por isso mesmo, aqueles que finalmente nos darão a capacidade de nos harmonizar internamente. Infeliz o homem que diz que não sabe odiar, pois deixa claro que não sabe amar; infeliz aquele que nunca se apaixonou e não cometeu desatinos por causa dessa paixao, pois sem dúvida não brotou dentro de si a semente do amor.

A paixão é a semente do amor, que regada e acolhida por nós em todas as suas nuances, nos levará ao amor por nós mesmos através do caminho do verdadeiro autoconhecimento. A paixão nos expõe, por isso ela é honesta. A paixão mostra quem somos. Somos capazes de nos dedicar sem ressalvas, incondicionalmente a alguém ou algo que desejamos. Somos capazes de dar a própria vida por alguém, de morrer de for preciso... e de matar também. Por isso, eu acredito que a paixão é o sentimento mais honesto que podemos sentir e que, se apreciado honestamente, pode nos levar a um grande salto no conhecimento de nós mesmos.

Quem já viveu uma grande paixão, sabe muito bem do que estou falando. Quem de nós sob o efeito da paixão não cometeu deslizes "imperdoáveis"? Quem de nós não esconde do mundo as suas "vergonhas" pelo fato de termos cometido atos não muito elogiáveis quando apaixonados? Como falar das mentiras para conquistar, e assim para nos defendermos da possível perda do objeto amado. Das maquinações, das manipulações, das imagens falsas que criamos para enganar e nos tornarmos "perfeitos" aos olhos do outro e assim, acreditamos, nos tornar mais desejáveis, mais "amados"? Quanta agressividade, quanta mentira, quanta invasão de privacidade, quanta chantagem emocional utilizamos para conquistar, para preservar em nossas vidas aquilo que se perdermos, nos fará eternamente infelizes, incapazes de viver, como se a nossa vida dependesse de algo externo e não na força dentro de nós mesmos.

A paixão estabelece dentro de nós o caos, mas nele que estão as raízes da nossa reorganização emocional. É preciso que encaremos nosso monstros, nossas feras internas e as incorporemos verdadeiramente, deixando que elas nos fortaleçam, fortaleçam a nossa capacidade de amar, de amar a nós mesmos. Temos que encarar nossos intintos, não como "fontes do mal", mas como fontes de força, de saúde, de energia pura que não deve ser escondida por vergonha ou reprimida por medo do castigo "eterno".

Meus queridos... a paixão sugere longas batalhas com nós mesmos, com nossas carências e desejos e lembra que não devemos reprimi-los, pois assim mais eles crescem. Nossas feras interiores devem ser cuidadas, alimentadas, para que a luta possa terminar e libertar nossas dores e assim evoluirmos além do bem e do mal, dessa nossa dualidade.

É preciso firmeza para unir justiça e amor, sem contudo ignorar a agressividade e o instinto que devem se tornar amigos, guias que abrem o nosso caminho. Depois da paixão, não seremos mais os mesmos, teremos que admitir que não somos tão "limpos", tão generosos, e altruístas como gostamos de parecer. O nosso amor e a nossa dedicação ao ser amado não são, enfim, tão incondionais e nós teremos que admitir as nossas feras geradoras de ciúme e mágoa, de ressentimentos e possessividade, ponto de partida para incorporarmos sua força e guiá-la positivamente.

Esta, a mensagem da paixão.