terça-feira, 26 de outubro de 2010

Chuva de verão.

—Não vai. — Mesmo que ele não tivesse se expressado em palavras, eu poderia ter sentido através da firmeza de sua mão, que ele não queria me deixar ir. Ela pressionava levemente a minha nuca, tornando verdadeiro o seu pedido, em grande questão.
—Está chovendo. — eu me afastei um pouco do seu toráx, fazendo um movimento semicircular com meus olhos puxados, indicando as gotas que caíam do céu, que agora já esbarravam em meus cabelos. Será que ele ainda não tinha percebido?
—Eu sei.
Eu ainda não tinha interpretado o que ele queria me passar. Não fazia sentido nenhum ficarmos ali parados. Acabaríamos com um forte resfriado. Mas já que ele tinha pedido, permaneci ali mesmo, sentindo as gotículas de água golpearem meu rosto, deixando minha visão turva ao borrarem meus olhos.
A chuva ironicamente só aumentava, dando risadas do mistério dele. Tanto era verdade, que em menos de um minuto eu já estava totalmente molhado, mas ainda em silêncio, olhando de forma interrogativa para ele.
Taylor me olhou firmemente. Eu aprofundei minha visão sobre o mundo que ele queria me mostrar, curioso ao tentar mergulhar em seus mais profundos pensamentos. O mais impressionante é que ele sabia a hora de falar e a hora de se calar. A princípio eu realmente cheguei a pensar que ele só queria ficar debaixo da chuva mesmo, curtindo o nosso momento. Se isso era o que ele queria, não via motivo nenhum para recusar.

Mas não era só isso.

Ele veio até mim, com aquele sorriso inocente no rosto, disposto a realizar alguma besteira. Sua expressão era parecida com a de uma criança, inocente e muito feliz. Embora o frio me fizesse estalar os dentes, eu me prendia a cena, esperando ansiosamente por qualquer movimento. De certa forma, eu nem precisei esperar.
Ele estendeu o braço. Aquilo seria um aperto de mão? Eu retribui encostando minha palma a sua.

Mas quanta ingenuidade. Ele me puxou bruscamente, encaixando suas mãos pela minha cintura. Ele me soergueu sem nenhum esforço, e eu me senti cair pelos ares de forma invertida. A imensidão da noite me engoliu por um instante, enquanto eu parecia voar, com pouco metros do chão.
—Abra os braços. Sinta a chuva. — ele adicionou, tentando me equilibrar.
Eu segui a sua idéia, confiando nele. Se ele me soltasse, com certeza eu iria me espatifar no chão. Naquela posição, ele me manteve, descarregando as forças de seus musculos, agora, próximo das minhas coxas. Após um giro que fez todas a água descolar de meu corpo, esvoaçando os céus, ele me abraçou fortemente, e eu pude sentir seu calor passar mediante o ar gélido. Eu agora estava muito mais do aquecido, estava fervendo, pois a adrenalina tinha tomado conta da minha corrente sanguínea, borbulhando meu sangue.
Caí próximo do seu rosto. E os lábios quase se tocaram.
—Maravilhoso, não é?
—Perfeito. — eu respondi, meio atordoado.
A chuva escorria por todas as partes do meu corpo. E por estar tão próximo dele, não pude ver seus cabelos tão escuros em tom veludo, que agora resplandeciam a cor lunar. O momento era tão mágico, tão perfeito, que eu queria ficar ali para sempre. Eu tinha nascido para isso, para ficar ao lado dele.

Nunca pense que tudo está perfeito. Tudo pode melhorar.

Dessa vez, ele admitiu.
—Não posso prosseguir sem a sua autorização.
Como se eu pudesse recusar qualquer coisa, depois daquilo.
—Diga. O que quiser.
—Eu quero um beijo. Igual nos filmes, bem aqui. Nessa noite, nessa chuva.
Eu ergui as sobrancelhas, assustado. Eu com certeza, não queria discordar dele, mas precisava também ver o seu lado.
—Não acha demais? Alguém pode ver.
—Eu acabei de te erguer em uma posição totalmente indiscreta. Quem viu, viu. Sem contar o nosso abraço.
—Mas Taylor, isso pode te prejudicar. Você tem certeza?
—Sh. De que lado você está? Poder prejudicar, pode. A sociedade é a sociedade. E as coisas não são tão simples. Mas essa noite é nossa. Vamos fugir um pouco. É a nossa chance.

Suspirei derrotado. E antes que eu pudesse sequer recuperar o fôlego, ou sentir qualquer fáisca de felicidade, ele esmagou seus lábios aos meus.

Acho que nunca fui tão feliz.

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