sábado, 21 de março de 2009

De lá pra cá, não sei.

Levantei. Olhei para a janela. Maravilhosa chuva. Incolorida. E me deu vontade de sair pela rua, para apreciá-la. Seria muito bom, deixar as águas levarem o que eu estava sentindo. Mas me segurei. Voltei a me deitar. Vestia uma blusa social branca, da noite passada, suas mangas compridas maiores que o comprimento do meu braço, me deixavam distante do frio. Escutei o barulho que as gotículas de chuva faziam no canto do vidro direito da minha janela. Estava aberta. Levantei-me. Encarei uma senhora que estava em um quintal, às 5 da manhã, juntando as suas roupas para que estas não fossem molhadas pela chuva. O sol parou de se exibir. Andei pela casa e fui até a cozinha beber um copo de água, foi tão renovador que eu me senti rejuvenescido. Olhei da janela da sala, a chuva engrossar. Ela engrossou, mas retornou a respingar lentamente, alguns segundos depois. Pensei em descer os degraus do meu simples prédio, para poder observá-la mais de perto. O pensamento foi levado embora com o vento, ele passou como uma melodia em meus cabelos, dando voltas em meu rosto e indo de encontro ao meu sorriso, me dando de presente uma brisa de despedida. Apoiei meu cotovelo na lateral da janela. Alguns pequenos pássaros lutavam para construir um ninho para se esconder do meu fenômeno predileto. Olhei as nuvens e como o vento as mexia de lá para cá. As arvores pareciam estar animadas. De um lado tangencial é fácil de ver riscos de chuva sem saber onde irão cair. Me virei, pensei em ir dormir. Bobagem. Então olhei para a janela novamente. Coloquei a mão para fora e senti o líquido escorrer pelas minhas mãos. Parecia escapar de mim. Concretizar em minhas mãos era complicado, seu estado líquido fazia-o deslizar. Ele escorreu até cair do terceiro andar do prédio em que eu me encontrava. Comecei a pensar. Na vida. No que eu sou. No controverso do que eu sou. O que eu queria. O que eu não queria. E via que tudo se misturava. De lá pra cá não sei. Não tinha resposta exata para cada questão. Fui até a porta. Abri-lhe. Mas eu estava descalço. Se eu descesse, não seria plausível. Fechei a porta. A chuva ficou rarefeita de novo. Chuviscos aqui e ali, batendo no telhado fazendo um som tão bom de se ouvir. Olhei de longe, de rabo de olho, com uma postura ereta. Suspirei. Minha mão continuava esticada para a maçaneta. Mas não ousei em abri-la de novo. Mexi nos cabelos ao me espreguiçar e recuei. A chuva mudou de forma. Agora alfinetes de largura extremamente finos e em muitas quantidades pareciam cair do céu. Não conseguia ver sequer um rastro sem água no ar. Cada gotícula parecia ocupar seu devido lugar no espaço. Colocar a mão para fora da janela seria molhá-la totalmente e instantaneamente. Não havia espaço, o ar estava lotado. Todas pareciam competir para ver quem chegava primeiro no chão. Agora eu vou - pensei. Mas ao olhar para o lado direito, vi uma mulher correndo desesperadamente para entrar em casa, devida a cachoeira que parecia cair dos céus. Saí da sala, para o quarto. Que cor de madrugada penetrante. Meio acinzentada azulada. O sol tinha se esquecido de nascer. Eram cores frias, minhas prediletas. Antes de me deitar, olhei o céu novamente, fez-me refletir. Em como a chuva se parece comigo, sem saber para onde ir, sem saber onde quer chegar. Sem saber que decisão tomar. Às vezes ela mudava de forma, escolhia o que queria e retornava. Bipolar. E assim percebi, nada mais nada menos, que a chuva representava a minha devida inconstância que eu escondia em meus céus, sem mostrar para ninguém. E ninguém sabe que eu desci para me molhar. Senti na pele toda aquela vibração de estar vivo. Simplesmente pela alegria de seguir minha loucura-vontade sentida.

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