quinta-feira, 23 de abril de 2009

Percepção.

Quando eu cheguei na sala de aula, lógico já estava lotada. Abri a porta e todos olharam para mim, todo descabelado e ofegante. O monitor disse em tom antipático:
-A sala já está lotada. Eu mandei uma do tipo: É, percebe-se. Subi para o andar de cima. Os ecos dos meus passos pelas curtas escadas se manifestavam dedurando a minha presença, quando eu abri a porta e vi que na sala encontrada havia poucas pessoas. Seria melhor para a realização do meu teste, porque eu iria me concentrar de uma forma melhor. Larguei a mochila na cadeira ao lado. Realmente, posso dizer que não foi um dos meus melhores testes. Eu já estava na ultima parte que era a parte da interpretação de textos. O Rabim é muito chato, pensei. Enquanto tinha dificuldades para fazer meus exercícios. E li uma frase que fazia a seguinte afirmação: Negar um fato é afirmá-lo inconscientemente. Eu dei uma risada e falei alto: Hahaha, tá bom. Os dez alunos presentes na sala me fitaram pensando que eu era maluco, mas respirei e voltei a fazer as questões. Mas que coisa engraçada a vida é. Aquela frase falava muito do orgulho que eu tinha com as pessoas. Eu tentei interpretá-la, mas aos poucos eu chegava a conclusão de que eu não podia concordar com ela. Afinal, quando eu negava minhas atitudes, eu estava sendo sincero. Mas inconscientemente... O que poderia ser? Aquilo ficou na minha cabeça. Parecia coisa de filme. Até porque quando eu saí na rua já estava de noite. Vi a hora e sabia que eu estava atrasado. Corri até a padaria, para comprar um mate com limão, quando uma senhora perguntou se podia passar a minha frente, na fila. Eu atrasado, respirei fundo novamente e disse: Pode passar. Eu não me importo. - e sorri. É, notei cinco segundos para perceber de que eu acabara de negar um fato. Mais cinco para perceber que na verdade eu me importava com aquilo, mas que fiz ''um sacrifício'' por vontade, educação ou sei lá o que foi, para deixá-la passar. Ainda pensei: Ah, foi por educação. Não custava nada deixar a senhora passar. Ah é mesmo, eu estava atrasado. No meio do caminho o celular toca:

-Oi, Rafa, sou eu a Sarah. Estou ligando para dizer que eu to aqui com a Julia fazendo uma pré night. Vou atrasar para ir no empório. Você vai como? - cara do Rafael: ¬.¬

-Ahh.. - esse 'ahh' broxante meu, diz tudo.

Mas não tinha problema, afinal eu já tinha marcado com a Alice de ir de carro. Expliquei a situação à Sarah. Além do mais, marcar de ir com eles,não seria boa idéia. Todos bêbados menos eu. Que sem graça! E todos já deveriam estar bêbados. Eu não fui convidado para a social. Aquilo de certa forma me encomodou. Não numa alta intensidade, mas deixei passar e falei:

-Bom, depois a gente se fala, meu amor.

-Eita, não precisa ficar chateado. - a Sarah percebe tudo.

-Não estou. - desliguei o telefone. É... A vida é irônica. Me mostrando cada experiência por uma frase. Que engraçadinha. Fui descendo a voluntários. Pensando na frase. Quando parei no ponto de ônibus e fui cutucado. Era o Matteo. Me virei e recebi um grande abraço. Me disse que estava indo para casa. Mas nem tinha perguntado o que ele estava fazendo ali. A vida estava brincando comigo. Por que então não brincar com a vida? Antes do menino subir no ônibus e me dar um beijo de despedida, ele me disse:

-Saudades suas... - ele disse.
Eu vomitei palavras nessa hora. Não deu tempo nem de pensar no que falar. Ele antes de ir embora precisava me dizer aquilo? Mas que coisa sem nexo. Falei rapidamente a primeira coisa que veio na minha mente, junto com o meu orgulho imaturo.
-Que pena, eu não senti. Ele fez uma cara de cu e perguntou:
-Sério?
-Esquece Matteo. Seu ônibus, chegou. - Pisquei o olho e me virei.

A medida que eu fui andando pela calçada, coloquei a mão no peito. Inconscientemente. Essa palavra veio me visitar. Até aquele momento eu não tinha notado a dor que eu tinha sentido por ter tido ele fora da minha vida, durante todo esse tempo. Mesmo que eu não quisesse senti-la, ela estava presente no meu coração.

Um comentário:

  1. "A medida que eu fui andando pela calçada, coloquei a mão no peito. Inconscientemente. Essa palavra veio me visitar. Até aquele momento eu não tinha notado a dor que eu tinha sentido por ter tido ele fora da minha vida, durante todo esse tempo. Mesmo que eu não quisesse senti-la, ela estava presente no meu coração. "

    Eu te entendo perfeitamente.

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