sábado, 2 de maio de 2009

Amor platônico.

Exatamente as quatro da tarde daquele dia, o encontro estava marcado. Guilherme estava quase pronto. Tinha acabado de voltar do exército, por isso possuía o uniforme vestido. Se olhou no espelho e viu suas olheras cansadas, mas nada o desanimou. Entrou no banho e logo já catava roupas no ármario para escolher e assim não se atrasar. Muito vaidoso. Ficou muito tempo tentando ajeitar o penteado, escolheu uma das suas melhores camisas. Colocou uma calça que combinou devidamente e os seus sapatos eram muito bonitos. Nem acreditava que finalmente tinha encontrado a pessoa a qual achava ser o amor de sua vida. Para falar a verdade, isso é muito relativo. Porque conhecer realmente, ele ainda não conhecia. Era possível amar alguém que é desconhecido? Para ele, o amor não tinha limites. E lá estaria ela, em um restaurante muito bonito próximo a casa do rapaz. Devia estar muito bonita. Embora os dois tivessem se falado muito através da internet, nunca tinham revelado suas fotos. Nem o nome ou a idade. A mulher que ele se apaixonara se tratava de uma desconhecida. Mas não uma total desconhecida. Nas diversas conversas em que tiveram, os dois não debateram sobre aparência física, e sim sobre formas de pensar. Também sobre coisas as quais os dois tinham em comum... Contaram histórias sobre a vida, experiências que tiveram, reações e ações feitas, entre outros assuntos. Ela tinha uma filosofia de vida muito diferente. Achava que a aparência exterior não importava. Nada o que regia a matéria era importante para ela, o essencial era a matéria composta de sonhos. Ou seja, o abstrato que rege dentro de cada um. No começo Guilherme ficou muito desmotivado, mas a mulher que iria conhecer, tinha formas de pensar tão incríveis, ela era tão carinhosa, madura e surpreendente, que ele se apaixonou por cada detalhe que assim dizia ser ela. Mas e se não fosse? Ele queria descobrir se aquilo era realmente de verdade. Ele teve muito medo. Medo de que o jeito dela não o agradasse. Medo que a sua aparência fosse grotesca demais. Tudo bem que ele não era a pessoa mais bonita do mundo. Mas sempre tinha mulheres aos seus pés. Um corpo maravilhoso. E era uma pessoa muito esforçada e estudiosa. Queria ser médico. Juntava dinheiro, para tentar fazer algum tipo de curso e assim passar no vestibular. Esse amor platônico estava muito sem graça. Perdido, então, durante um mês nos pensamentos de uma desconhecida, que poderia existir ou não, o rapaz já se aproximava do tal restaurante. Estava muito nervoso. Tinha colocado muito perfume e parado em cinco carros, para se olhar no espelho do retrovisor. Ele estava impecável. No caminho, muitas pessoas o notaram. Guilherme era o sonho de qualquer mulher. O restaurante estava muito cheio. Muitas pessoas saíam e entravam. A porta estava lotada. Ele se encontrava em uma rua de Ipanema muito movimentada. Tinha muitos restaurantes, bares e pessoas. Mesmo assim, é claro que ele não iria desistir de achá-la:
"Estarei com um arranjo de flores apoiado em cima de uma das orelhas" - Ele lembrou. Ele tinha marcado de vir com uma blusa muito destacada. Era listrada, preto e branco. A calça era preta. Era difícil de confundir. E na porta do restaurante lotado, tentou localizá-la. Já estava atrasado dez minutos, então com certeza ela já tinha chegado. Sentiu certo ressentimento por estar atrasado e foi pessimista algumas vezes na hora de pensar, deduzindo que a mulher já poderia ter ido embora. Mas não. Era só pensar positivo que tudo ia dar certo. E então, a rua toda parecia ter parado. Todas as pessoas bêbadas felizes, fúteis, supérfolas e frívolas pareciam ter se calado. Os casais apaixonados não mais o chamavam a atenção. Quando ele avistou a mulher. A rua parecia estar vazia e nada mais importava. Era como se os dois estivessem sozinhos. E notou a aparência da mulher. Velha, parecia perto dos cinquenta. Vestia uma roupa meio fora da moda. E o batom no seu rosto estava borrado. Parecia muito cansada, parecia estar voltando de um dia duro de trabalho. Talvez ela até trabalhasse por aqui perto. Porque parecia ofegante. Devia ter se atrasado, ou esquecido e então resolver vir correndo. Mas a mulher não o tinha visto. Ela procurava por alguém e Guilherme sabia que era por ele. Será que ela tinha escolhido esse local cheio, de propósito? Então ele apenas sorriu. Seus dentes brancos ficaram a mostra. E que sorriso lindo. Acenou. Chamou tanto a atenção, que a mulher notou a sua presença. Não sabia o nome dela. O código era simples. Quando eles se encontrassem, bastaria o rapaz falar o seu nome. Afinal, a mulher já sabia qual era. Ele se aproximou da senhora e falou:
-É você? Sou eu Guilherme. - a mulher de aparência velha o respondeu:
-Ah, finalmente achei você. Olha só, meu querido. Uma mulher me pediu um grande favor. Para que eu procurasse um rapaz com uma camisa com listras decoradas inconfundíveis. Me deu de presente esse arranjo caro de flores, para eu ficar bonita. Disse que é a última moda em Paris. O que achou? - perguntou. - E Guilherme tinha um ponto de interrogação na cabeça. A mulher prosseguiu:
-Ah me desculpa, eu falo demais. Ela disse que se o senhor viesse falar comigo era pra eu te passar a seguinte informação. Ela te espera dentro do restaurante, ali na varanda, no reservado. - a senhora apontou. Guilherme se virou e viu a mulher. Cabelos loiros lisos lindos e brilhantes. Um batom vermelho, com um lindo vestido. Estava lendo uma revista. Forçou a visão. Rosto muito bonito e moldado, parecia ser jovem. Da mesma idade que ele. Ele beijou a senhora no rosto, que não entendeu a situação e entrou no restaurante, na área reservada, praticamenteo saltitando. Foi recebido por um grande abraço. O melhor de todos os abraços. A sensação foi indescrítivel.


A beleza exterior é anulada, quando interior está estagnada.

2 comentários:

  1. MAS AÍ ELE VIROU E DO LADO TINHA SEU AMIGO ROGÉRIO, EM QUE ELE HAVIA PASSADO NOTES QUENTÍSSIMAS NO EXÉRCIT...

    tá, ele é hetero.


    Adorei, parabéns.

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